Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-presidente nacional do PT, disse acreditar que é “boa” para o Brasil uma possível polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido) na eleição presidencial de 2022. “Representa mais do que um confronto político”, afirmou em entrevista ao UOL na última quinta (29). “Lula pode ser o candidato da esquerda. O Lula é um candidato de centro-esquerda. Eu diria até mais apto para comandar um governo centrista, como vai ocorrer em qualquer governo que assuma a partir da derrota do Bolsonaro”, avaliou Tarso Genro.
O ex-presidente recuperou os direitos políticos após uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) definir que a 13ª Vara Federal de Curitiba não tinha competência para julgar os processos ligados a ele. Com isso, condenações — já confirmadas por instâncias superiores — foram anuladas, tirando Lula do rol dos ficha-suja. Nesta semana, Lula terá reuniões em Brasília que devem ser pautadas pelo tom de uma declaração dada por ele no mês passado: “Se for preciso chegar no centro para ganhar as eleições, a gente vai chegar”.
Por esses e outros pontos, Genro o vê como um “Biden brasileiro”, já que o tom de conciliação foi um dos pontos que marcaram a eleição americana, dando a vitória ao democrata Joe Biden contra o republicano Donald Trump, aliado de Bolsonaro, no ano passado. “[Biden] está fazendo um movimento na economia que aqui os neoliberais chamariam de populista, [com planos que colocam] o Estado a induzir o desenvolvimento e a incentivar a iniciativa privada a promover o emprego, o desenvolvimento, o crescimento. Nós podemos fazer algo análogo. Acho que Lula pode ser o Biden brasileiro em 2022”, comentou Tarso.
Na visão do ex-governador e ex-ministro do governo Lula, o ideal para 2022 seria uma candidatura unitária que aglutinasse grupos da esquerda e da centro-esquerda. “Mas isso, notoriamente, não é possível. Já temos lançada em primeiro lugar a candidatura do Ciro [Gomes, do PDT], que não admite negociar a transição para uma outra posição”.
Num cenário sem um candidato unitário, sugere um protocolo entre as forças políticas democráticas de respeito mútuo para que, em um eventual segundo turno contra Bolsonaro, as forças democráticas se unam — esquerda, centro-esquerda, centro democrático — para mudar os rumos políticos do país”. Em 2018, Ciro não atuou no segundo turno a favor de Fernando Haddad (PT) contra Bolsonaro pois viajou a Paris. “Por tudo que está sendo vertido nas pesquisas, me parece que o Lula é o candidato mais forte para derrotar o Bolsonaro, que é nossa tarefa principal”.
Neste momento, porém, diz Genro, o foco dos partidos deve ser o combate à pandemia do novo coronavírus, deixando definições eleitorais para o final do ano. “Não está no momento ainda de decidir candidaturas à Presidência da República. Está na hora de as forças políticas dizerem quais são as suas preferências, mas privilegiar a luta contra o governo Bolsonaro e a situação de mazela que ele está deixando para o país”, avaliou.
Conciliação
Genro discorda de afirmações que equiparam Lula a Bolsonaro e afirmam que estariam em polos opostos. Para ele, “Lula nunca foi de um extremo”. “Sempre foi conciliador para dar estabilidade a um governo que tinha pretensões de enfrentar problemas sociais de enorme amplitude”.
“Lula não é de radicalização. Ele é um grande negociador da estabilidade político-democrática. Acho que isso, nas circunstâncias que nós vivemos hoje, é uma virtude extraordinária”, opina Tarso.
Em sua avaliação, a polarização política que existe hoje no Brasil não se resume a bolsonaristas contra petistas, mas, sim, a uma disputa “entre o fascismo e a democracia”. “E Lula, quando governa, fala em coesão do país, não em divisão”, argumenta sobre a hipótese levantada por alguns que um eventual terceiro governo seu manteria o clima atual. “Os governos de Lula são acolhedores, não são governos de divisão ou de fragmentação”.
Ao lado do PSOL e do PCdoB, Genro é signatário de uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) que alega que Bolsonaro foi omisso no combate à pandemia. “O genocídio no país é uma política de governo, e ela tem que ser respondida tecnicamente e politicamente também”.
Para Genro, “o próximo governo, seja o Lula ou seja quem for do campo democrático, vai ter que ter um cuidado enorme com o fisiologismo, que pode levar — e frequentemente leva — a uma relação de subserviência e de corrupção”. “Mas isto não foi organizado nem chancelado — e os tribunais agora estão dizendo — nem inventado pelo Lula. Isso é um modo de governar no Brasil que tem que ser superado”.
Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba