Dois jornalistas espanhóis e um irlandês que estavam desaparecidos em Burkina Faso foram assassinados por homens armados que os sequestraram na segunda-feira em uma região com intensa atividade de caça ilegal, informaram fontes oficiais nesta terça (27).
“Confirma-se a pior das notícias”, assegurou o chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, ao informar pelo Twitter sobre o assassinato dos jornalistas espanhóis David Beriáin e Roberto Fraile.
O Ministério de Relações Exteriores da Irlanda, sem dar detalhes, disse que “esteve em contato com a família do cidadão irlandês e proporcionou todo o apoio consular possível”.
“É muito lamentável, os três ocidentais foram executados por terroristas”, declarou à AFP um alto funcionário dos serviços de segurança em Burkina Faso.
Os dois espanhóis e o irlandês acompanhavam uma patrulha contra a caça ilegal quando foi atacada na segunda-feira na região de Fada N’Gourma-Pama, no leste do país africano.
Segundo testemunhas, os três europeus e um burquinense – que continua desaparecido – foram sequestrados e eram intensamente procurados nesta terça-feira cedo pelas forças de segurança de Burkina Faso.
O ataque, que também deixou três feridos, foi uma obra de homens armados que circulavam em duas caminhonetes e uma dezena de mortos, segundo fontes de segurança, destacando que os autores do ataque levaram armas e material, inclusive duas caminhonetes e um drone.
– Repórteres experientes –
A ministra espanhola de Assuntos Exteriores, Arancha González Laya, explicou durante coletiva de imprensa que os dois jornalistas espanhóis estavam “trabalhando em um documentário sobre as operações que Burkina Faso organiza para proteger os parques nacionais” e “seus recursos naturais contra a caça ilegal”.
González Laya informou que Beriáin era originário de Pamplona em Navarra (norte) e Fraile, de Baracaldo, no País Basco (norte).
Beriáin, ex-jornalista de guerra da CNN+ (braço espanhol da CNN, que deixou de operar em 2010), tinha fundado a produtora “93metros”, especializada em “grandes formatos documentais que dão acesso a mundos clandestinos”, segundo sua conta no Linkedin.
Fraile, que segundo veículos espanhóis tinha sido ferido em 2012 na Síria, trabalhava “há pouco” para o canal de televisão CyLTV (canal de Leão e Castela), segundo um tuíte do veículo mostrando fotos do jornalista atrás de uma câmera.
O chefe de governo espanhol expressou no Twitter seu “reconhecimento àqueles que, como eles, realizam diariamente um jornalismo corajoso e essencial nas zonas de conflito”.
O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, disse que “os terroristas mostraram mais uma vez sua covardia e seu rosto criminoso: os defensores de um obscurantismo que aniquila toda a liberdade de expressão”.
“Esta tragédia confirma os grandes perigos que enfrentam os jornalistas no Sahel”, disse em Paris Christophe Deloire, secretário-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
– Ataques jihadistas frequentes –
Nos últimos anos ocorreram vários sequestros de estrangeiros em Burkina Faso.
Um casal de australianos foi sequestrado em Djibo, na fronteira com o Mali e o Níger, na noite de 15 de janeiro de 2016, durante uma ação aparentemente coordenada com atentados em Uagadugu.
Essa noite, os jihadistas abriram fogo em cafeterias, restaurantes e hotéis da avenida Kwame-Nkrumah, o centro da vida noturna de Uagadugu, deixando 30 mortos e 71 feridos.
Os sequestradores entregaram a mulher, Jocelyn Elliot, às autoridades nigerinas aproximadamente um ano depois. O homem continua desaparecido.
Em dezembro de 2018, um casal ítalo-canadense desapareceu na rodovia entre Bobo-Dioulasso e Uagadugu. Foi libertado no vizinho Mali, depois de mais de um ano de cativeiro.
Desde 2015, os ataques jihadistas são cada vez mais frequentes no país.
A princípio, os ataques atribuídos a grupos jihadistas – como o Grupo de Apoio ao Islã e os Muçulmanos (GSIM), afiliado à Al Qaeda e o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS) – tiveram como cenário o norte do país, na fronteira com o Mali.
Mas, com o tempo, se espalharam para a capital e outras regiões, principalmente do leste e do noroeste.
Desde 2015, as ações violentas dos jihadistas deixaram mais de 1.200 mortes e mais de um milhão de deslocados.
Fonte: Isto É
Créditos: Isto É