Duas pacientes com Covid receberam tratamento de nebulização de hidroxicloroquina em uma maternidade de Manaus, mesmo que o procedimento seja totalmente contrário ao padrão adotado e sem eficácia comprovada.
A médica filmou o momento em que uma das pacientes é submetida ao tratamento com hidroxicloroquina, para mostrar aos familiares.
A paciente morreu, e um parente denunciou o caso nas redes sociais.
Uma das pacientes morreu e outra teve alta. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) informou ao G1, em nota, que determinou abertura de sindicância e o afastamento da médica que realizou o tratamento. A informação foi divulgada inicialmente pelo jornal Folha de S.Paulo.
De acordo com a SES, o procedimento foi feito de livre iniciativa da médica. Ela atuou por cinco dias no Instituto da Mulher Dona Lindu (IMDL), junto com o marido, que também é médico.
Eles foram integrados dia 3 de fevereiro, após contratação em regime temporário pelo Governo do Amazonas, junto com outros 2,3 mil profissionais de saúde, via banco de recursos humanos disponibilizados ao Estado pelo Ministério da Saúde, para atuarem durante a pandemia em hospitais da rede estadual.
Conforme a secretaria, a nebulização com hidroxicloroquina adotada não faz parte dos protocolos terapêuticos da maternidade, “nem de outra unidade da rede estadual de saúde, ainda que com o consentimento de pacientes ou de seus familiares”.
Porém, ainda segundo o órgão, as duas pacientes submetidas ao tratamento assinaram termo de consentimento. Todas as informações sobre o atendimento estão registradas em prontuário.
Eficácia não comprovada
Diversos estudos já haviam apontado que o tratamento com hidroxicloroquina em pacientes com Covid não tem eficácia. Apesar disso, com frequência, o presidente Jair Bolsonaro defendeu o uso do medicamento no tratamento precoce contra a Covid, mesmo sem comprovação científica.
Em março deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma diretriz na qual pede fortemente que a hidroxicloroquina não seja usada como tratamento preventivo da Covid-19. O documento foi divulgado na revista científica “The BMJ”.
A recomendação é feita por um painel de especialistas internacionais do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da OMS (GDG).
Desde julho do ano passado, a organização informa que não tem encontrado benefícios no uso do antimalárico contra o coronavírus. Desta vez, a conclusão passa a ser uma orientação concreta e oficial para os países e profissionais de saúde.
Investigação no RS
O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) abriu, no dia 6 deste mês, uma sindicância para apurar a conduta do médico que aplicou nebulização de hidroxicolorquina em um paciente com Covid, em Alecrim, na Região Noroeste.
Lourenço Pereira, de 69 anos, morreu no dia 22 de março. A família do idoso diz não ter autorizado a realização do procedimento.
O presidente do Cremers, Carlos Isaia Filho, afirmou que o órgão recebeu a notícia com “apreensão”. “O Conselho recebeu com muita apreensão essa nova notícia de um óbito em Alecrim pós-tratamento”, disse.
A RBS TV tentou conversar com o médico responsável pelo atendimento do paciente, Paulo Gilberto Dorneles, que não quis se manifestar. O Hospital de Caridade de Alecrim, onde o procedimento foi administrado, só vai se posicionar oficialmente nas investigações.
A investigação do Cremers ocorrerá sob sigilo. Segundo o presidente do conselho, o médico terá direito para apresentar sua defesa.
O Ministério Público (MP) também abriu um expediente para apurar o caso. Ao G1, o órgão informou que os familiares do paciente enviaram comunicação do ocorrido à Promotoria de Santo Cristo, que atende o município de Alecrim. O promotor Manoel Figueiredo Antunes vai requisitar instauração de inquérito policial pra averiguar a situação em âmbito criminal.
Fonte: G1
Créditos: G1