“Nem tudo na vida são dores…”
Não há nada melhor, sensação mais transcendental do que se recuperar de alguma enfermidade, mesmo que se trate apenas de trégua temporária.
O relaxamento, alívio de recompor forças, energia, disposição, ou simplesmente deixar pra trás desconfortos é incomparável.
Desafio qualquer um a negar esta realidade inexorável.
Alguns afirmam que nada supera o gosto, outros a satisfação de comer (estou falando de comida/alimento mesmo, pervertidos) mas claro, também, há os que preferem o gozo (tamo junto).
Existem ainda os que relatam que o prazer dos prazeres está em evacuar, se é que me entendem.
Bem, não quero entrar em qualquer satisfação individual, preferências próprias, mesmo as macabras, excêntricas, afinal, já diz o saber popular, gosto é igual a…
Fato é que tudo isso, todos estes exemplos de regozijo, são símbolos de realizações efêmeras, menores diante da plenitude da convalescência!
Se essa palavra potente chamada Nirvana tem alguma tradução terrena, sem dúvidas é a satisfação de deixar de sentir dores, incômodos, restrições.
Nestes Dias de Luta, que tenho travado contra umas malditas bactérias que se alojaram em meu joelho e estenderam minha recuperação de uma simples cirurgia no menisco, busco aproveitar os confortos dos escassos momentos de bem estar ao máximo.
Como tudo, absolutamente tudo, na minha vida é embalado por música, curiosamente, a primeira lembrança de “refresco” no doloroso processo de recuperação é, ainda do hospital, assistindo a um documentário do Sepultura.
Vejam bem, estava eu, no leito hospitalar, vendo Sepultura e encontrando o Nirvana.
Emblemático, não??
Me empolguei tanto, que, sem me aperceber estava eu ouvindo trechos de Metal “no talo”, em recinto impróprio, quase importunando vizinhos enfermos. Só me dei conta do excesso após repreensão de Denise, minha mulher. Cortou minha curtição. Baixou o astral. Down no Hospital.
Lógico que não descarto a possibilidade desta primeira lembrança de reconforto estar associada ao prazer da ambientação musical, memórias afetivas, que elas trazem e tudo o mais. Posso até ter tido algum lapso de alívio antes, mas não me recordo e não me serviria aqui no texto. Cortaria o poder da história, então, deixa pra lá.
O que é inegável, é que uma boa sensação retroalimenta a outra (o conforto momentâneo me estimulou a buscar algo que gosto e vice versa). Mas vamos deixar de lado a fábula da galinha e do ovo, por favor. Me deixa curtir “meu barato sonoro”, sem teses.
Por falar em barato, prazeres fugazes… devo registrar que um simples documentário sobre música, me proporcionou impacto maior, mais eficaz que qualquer droga que era injetada em doses cavalares, diretamente nas minhas veias.
Na noite anterior ao “quase Nirvana” relatado, apenas para conseguir dormir, fui intoxicado por um comprimido de Diazepan e outro de Lexotan (só lembrei da música clássica do Júpiter Maçã) e o resultado foi nulo. Madrugada a dentro em claro, remexendo lençóis, arrastando acesso, agulha e soro e revirando a cama.
Após 3 semanas, desde a segunda internação hospitalar, há tempos já em casa, as dores ainda são intensas, latejantes, quase parte de mim. Acordo e durmo com elas, mas em graus diferentes de tolerância. Não sei se o conformismo é por habituação corporal a esta rotina, ou percepção de parte do processo de evolução do quadro, o que estabelece compensação.
Fato é que, diante de tudo isso, ainda é a música e seu imenso poder sensorial que me resgatam e transportam.
Apenas a título de ilustração, com a minha musicoterapia, já mirei o “Higher Ground” (Ponto mais Alto) com Stevie, aquele Wonder, visualizei “Os Alquimistas”, com Benjor, pesquisei “O Mistério do Planeta”, com os Novos Baianos e agora vou ali pegar carona no “Trem Azul” do Clube da Esquina.
Dá licença, “que quero passar com a minha dor”!
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba