Escassez de água e homens públicos

Gilvan Freire

Para o povo nordestino, os presidentes do Brasil são os mesmos desde a proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889. A única coisa extraordinária que aconteceu nesses 123 anos por conta da proclamação foi o feriado que em 2012 caiu numa quinta-feira, afogando a sexta e emendando ao sábado e domingo, um presentão para os servidores públicos que gostam mais de descanso do que do tamanho de seus salários.

Se é verdade que de lá para cá o país cresceu em tudo, ainda assim não consegue realizar a transposição do Rio São Francisco, a obra idealizada pelo último monarca da Coroa, Pedro II, que, diferente de Dilma, chegou a emocionar- se por causa do sofrimento do povo do Nordeste. Ou seja, se Dom Pedro tivesse continuado no governo, possivelmente a transposição teria sido feita a mais de um século. Com água até das lágrimas do Imperador.

De Pedro II até hoje o crescimento social da população nordestina é minguado, com relação ao mundo civilizado, pois ainda habitam na região as mazelas mais penosas, somente equiparadas às penúrias existentes em rincões da Ásia e da África.

Nenhum presidente até o momento conseguiu integrar a região ao resto do país, tudo devido a insensibilidade de quem dirige e a sua incapacidade gerencial, embora o Nordeste detenha mais de um terço do território brasileiro (descartada a parte espacial não habitada da Amazônia) e possua mais de 25% da população total brasileira. É um mercado consumido e tanto, alugado ao parque industrial de São Paulo, que recebe aqui até incentivos fiscais para deslocar indústrias e obter de volta a remessa dos lucros líquidos com o ganho dos impostos que não paga. Com toda essas dimensões fantásticas, o governo federal destina à região menos de 10% de seus recursos orçamentários.

Mas há um atributo nordestino insuperável, é a capacidade de reação de seu povo diante das adversidades de toda ordem, especialmente a infelicidade de ter uma classe política omissa e covarde, que entrega de mão beijada ao governo central a miséria como prêmio de conformação em troca de pequenas esmolas de ocasião. É triste.

Ô LULA! CADÊ DILMA?

A seca que eclodiu mais uma vez no Nordeste, assim como os furacões americanos e os maremotos asiáticos, não encontra um povo despreparado, encontra sim governos indigentes, totalmente inabilitados para proteger a população contra desastres recorrentes. Quando as soluções não ocorrem e quando o tratamento a questões tão dramáticas não melhora, é porque o despreparo governamental e a insensibilidade dos governantes são mais recorrentes que os desastres – e piores do que eles. Só não pior do que a representação política regional, que fica deprimida e agachada como se lhe faltassem a comida e a água que faltam ao povo atingido nas zonas de caos. É uma miséria representando outra por razões e preços diferentes.

Lula, o retirante que foi suprir em São Paulo, logo cedo da vida, a falta d’água na área rural de Caruaru, bem que atreveu-se a continuar a obra do último monarca, mas deixou-se atropelar pela burocracia e pelos interesses contrariados dos poderosos e grupos de pressão, e terminou por entregar a Dilma a sorte dos sedentos e famintos que não puderam ir pra São Paulo com ele. Deu no que tá dando, porque Dilma não nasceu como Lula no Nordeste seco e nem sabe o que significa transformar currais em depósito de caveiras de animais de estimação.

Morresse um gato ou um cão de estimação de Dilma, certamente ela se abalaria. Mas como morrem em massa animais de estimação e cria dos nordestinos, ela não se toca. Quando perdeu Palloci e mais seis ministros podres, contudo, no início do governo, chorou copiosamente.

Tem sido o PT, o aparelho político do governo Lula/Dilma, que promete tudo ao povo do Nordeste em tempos de eleição, em nome dos dois, como fez recentemente em João Pessoa. Depois somem os três, Dilma, Lula e o PT, e o Nordeste continua o mesmo. Mas, porque eles teriam de ser diferentes? Há alguém que esperava alguma mudança no tradicional estilo que essa gente mais nova copiou dos mais velhos?