Ricardinho paz e amor

Rubens Nóbrega

Sinais de fumaça expelida das narinas do poder evidenciam que os resultados eleitorais deste ano impuseram sentido de urgência urgentíssima a uma notável operação política e midiática para tentar reverter impopularidade e rejeição ao governador Ricardo Coutinho.
Pressupondo que tais sentimentos persistem em níveis elevados junto a segmentos mais politizados (ou mais poliqueiros, diriam outros), parece-me facilmente perceptível que vem sendo aplicadamente trabalhada uma imagem mais amena para o governante estadual.
Trata-se da versão Ricardinho paz e amor, lançada com relativo sucesso semana passada através de outdoors espalhados pela cidade anunciando o novo modelo. Como pretexto, o aniversário do homem que está sendo reestilizado para entrar no mercado com força total em 2014.
Mas não esperem o Novo Ricardo fazer concessões já ao populismo. É coisa pra daqui um ano abrir tanto o cofre para saciar o apetite da base aliada como o saco de bondades para conter a revolta do funcionalismo estadual. E tudo com a generosidade do tamanho exigido por uma campanha de reeleição.
Não se espantem, contudo, se até o final de dezembro pintar a notícia de que os servidores estaduais receberão uma laminha a mais, um pouco mais do que os 3% de janeiro deste ano, a título de reajuste salarial para todos e todas a vigorar no começo do ano novo.
De qualquer sorte e por enquanto, o que se tem é a informação de bastidores que ele estaria aplacando a sede mais fisiológica de alguns deputados alocando obras para os redutos desses apoiadores. Se o cara vem pedir boquinha pros afilhados, diz que não tem. Mas se quiser uma estradinha, uma pontezinha, um poçinho aqui, uma quadrinha de esportes acolá…
Pelo visto, até lá, gradativa e homeopaticamente serão atendidos os amigos, correligionários e aliados, nessa ordem. Isso no varejo. No atacado, a golpes de farta e caríssima publicidade governamental e de um refinado marketing pessoal o governador pretende desbastar o Velho Ricardo.
A ideia seria mudar consistentemente, convincentemente, a impressão geral dos que o têm – fora do período eleitoral, é claro – como inabordável, inacessível e até inafetivo, como diria o percuciente Gilvan Freire.
Como provas recentíssimas de que a execução da bem urdida estratégia estaria em curso podemos citar a badalada festa de aniversário do governador no domingo, depois de ele fazer uma presença bem ostensiva na Romaria da Penha, onde se misturou à vontade ao ‘povão’. Detalhe relevante: não há registro de qualquer hostilidade à pessoa dele durante o evento religioso.
E se Ricardo foi bem tratado pelos devotos de Nossa Senhora da Penha, imaginem, então, como não terá sido por seus devotos mais fanáticos na festa dos 52 anos, comemorados em uma granja bem distante daquela que o contribuinte banca regiamente para servir de residência à família real.
Pelo sim, pelo não, deve ter sido para afastar olho gordo e mau olhado em cima dessa empreitada repopularizante que na festa de aniversário do governador as mesas foram enfeitadas com um curioso arranjo: no centro, uma garrafa meio d’água acolhendo flores diversas, incluindo girassóis; rodeando a garrafa, um rosário de sal grosso. Saravá, meu rei!


Cajá: suspeita de execução

O texto a seguir é de atilado colaborador da coluna. Por motivos que a obviedade dispensa explicar, o autor terá a sua identidade protegida.

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Inquérito instaurado pelo Comando da PM e outro, aberto por um delegado da Polícia Civil, devem responder a perguntas que muitas pessoas estão se fazendo acerca das circunstâncias da morte de José Almeida Neto, 27 anos, baleado domingo último por policiais quando se encontrava dentro de uma viatura policial na cidade do Cajá.
Ele teria disparado com uma metralhadora contra os PMs que o detiveram. A arma estaria na mala da viatura em que foi colocado, após algemado com as mãos para frente. Do modo como lhe foram colocadas algemas vem a primeira questão: por que não com as mãos para trás, como é usual, para restringir ainda mais a mobilidade do preso? A pergunta puxa as demais:
• se a vítima, além de algemada, estaria embriagada, ainda assim teve agilidade, destreza e perícia suficientes para desarmar a trava de segurança da metralhadora?
• se estava municiada, a metralhadora não deveria estar em poder do seu responsável?
• foi ou será realizado exame de balística? Quantos disparos a vítima teria efetuado? Em contrapartida, qual o calibre dos projéteis que o fulminaram na cabeça bem como qual a distância e sentido em que foram disparados?

É um zunzunzun zumbindo…

Se não estourar hoje, está para estourar muito em breve mais uma dessas incríveis e revoltantes histórias de regalias e mordomias absolutamente imorais financiadas com o dinheiro público da depauperada e esturricada Paraíba.