Os silenciosos 40 anos do "Almeidão"

Paulo Santos

O Brasil vai sediar, nos anos santos de 2014 e 2016, os dois mais importantes eventos do calendário esportivo – a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O torneio patrocinado pela Fifa não é inédito no país, mas as disputas das competições simbolizadas pelas cinco argolas é de extrema importância para colocar esse pedaço de América Latina no primeiro mundo das brigas pelos ouros, pratas e bronzes.

Os paraibanos, como todos os brasileiros, orgulham-se pela doce espera desses acontecimentos. A Copa das Confederações em 2013, para quem gosta de futebol, deve servir de preliminar para esquentar os ânimos e preparar o torcedor para vibrar os milhares de atletas que vão desfilar durante as competições.

Muitos paraibanos, entretanto, não têm maiores motivos para vibrar com o esporte. Os da Capital, principalmente. Devem, na realidade, estar frustrados, alquebrados, arrasados em suas autoestimas devido ao fato da politicagem estar sepultando as atividades esportivas nesse Estado.

Meses atrás soube-se, com infinita tristeza, que parte das estruturas da Vila Olímpica do Estado – o antigo Dede – havia desabado. Mais uma vez, com a mais absoluta falta de entusiasmo das autoridades responsáveis, foi preciso apelar para as reformas de urgência, tentar tapar o sol com uma peneira.

Na semana passada mais uma vez o Ministério Público estadual, seguindo a rotina dos últimos anos, proibiu que o campeonato paraibano de futebol fosse realizado no majestoso espaço do estádio Almeidão, aquela mistura de palco e salão de festas construído pela sensibilidade do governador Ernani Sátyro.

Antes que algum desavisado pense que o pessoal do MP não gosta de futebol, esclareça-se que essa proibição se deve ao fato do maior monumento esportivo da Capital estar caindo aos pedaços, abandonado, dilacerado, degradado e se transformando num imenso canteiro de saudades das batalhas espetaculares que ali foram travadas em quase 40 anos.

Isso mesmo: 40 anos. Salvo engano, o Almeidão foi inaugurado em 1973 com um clássico entre Botafogo e Treze. Não são 4 anos nem 40 dias. A memória pode falhar (o placar da partida sumiu), mas a lembrança, não: eu estava lá. O primeiro jogo num campo de futebol ninguém esquece.

O problema é que um espaço da alegria, da vibração, vai se manter silencioso, abatendo o ânimo e subtraindo mais uma opção de entretenimento da população. Um passarinho insiste em piar aqui ao lado procurando saber se haverá criança querendo torcer pelo Botafogo, Auto Esporte, CSP ou Flamengo da Capital se não há um lugar para assistir á exibição desses times.

Esse é o lado sentimental. Esse romantismo desaparece quando se aprofunda a discussão sobre os prejuízos econômicos e financeiros do fechamento de estádios de futebol. A Paraíba está na contramão de tudo que se apregoa para esse setor, não apenas no Brasil, mas no mundo.

Quem se debruçar sobre os números dos torneios realizados pela CBF verá que o futebol é uma atividade extremamente lucrativa. São várias séries de campeonatos de profissionais, de juniores, etc. Se não gerasse lucratividade porque a direção da Federação Paraibana de Futebol seria tão longeva? Ninguém quer se perpetuar num local que lhe dá prejuízo.

A nenhum paraibano interessa o sucateamento das suas praças esportivas. Destruir os módulos esportivos, profissionais ou amadores, é condenar as próximas gerações à inanição. A culpar apor esse marasmo não é apenas da FPF, do Governo ou de qualquer outro estamento social.

O que gera essa sublimação na vontade de estimular o esporte é a acomodação de quem tem deve cobrar novas opções sociais através dos esportes. Se deputados e vereadores – esses eternos omissos nas questões que verdadeiramente interessam à população – não se manifestam sobre essa hecatombe, a população – graças ao silencia e os interesses subterrâneos da imprensa – também não exercita sua capacidade de reivindicar.