A seca, a mobilização e a educação

Dimas Lucena

“Quando ‘oiei’ a terra ardendo / Qual fogueira de São João / Eu perguntei a Deus do céu, ai / Por que tamanha judiação”. Os versos cantados por Gonzagão dão uma ideia da agonia da seca. Mas desde Dom Pedro II que, ao ver a miséria ardente, prometeu “vender até a última jóia da coroa” para solucionar, até agora pessoas estão secando, animais morrendo e o semi-árido nordestino é um cenário de terror.

Imagine você colocar uma lata na cabeça, andar quilômetros para levar para casa uma água barrenta, misturada com urina de animais. Imagine você debaixo de um sol escaldante vendo o que você ama (e às vezes não sabe nem dizer) secando e morrendo. Imagine você rezando para chover enquanto o vento quente não deixa nem lágrima correr.

Os números são assustadores. Mas não quero falar deles, quero lembrar cada pessoa, cada animal morto. Segundo o Padre Djacy Brasileiro o “sertão é um cemitério a céu aberto e até galinhas e passarinhos estão morrendo de sede e calor”.

Claro que é uma histórica questão política. O homem tem que criar infra-estrutura e também saber conviver com esse fenômeno geográfico. Mas o que fazer agora, nesse momento? Você pode parar de ler nesse instante e tomar um copo d’água gelada, mas e os que estão evaporando na seca?

Proponho uma ampla mobilização de toda a sociedade pelos flagelados da seca. O Poder constituído precisa tomar essa iniciativa e iniciar uma Campanha de Mobilização Nacional. É preciso sensibilizar e conscientizar para o que está acontecendo. Utilizar, por exemplo, toda rede escolar para arrecadar alimentos e água. Fazer de cada cidadão um soldado nessa “guerra” e de cada aluno um instrumento de solidariedade.

A Educação nesse momento pode, como em outro qualquer desafio, ser um instrumento de Razão e de Emoção. Pode ser utilizada a Teoria da Complexidade de Edgar Morin, a rede escolar colocar como eixo central a seca. O Professor de Matemática analisar os números, o de Geografia a dimensão climática, o de História refletir sobre o passado e o presente, o de Língua Portuguesa trabalhar a leitura e a produção de textos tendo o tema como inspiração. Enfim, toda uma ação pedagógica voltada para uma compreensão crítica, reflexiva e capaz de alavancar ações.

Não somos merecedores do título de Humanos se não desenvolvermos a solidariedade e a fraternidade. As “Vidas Secas” de Graciliano Ramos e os “viventes” de “A Bagaceira” do nosso Zé Américo de Almeida continuam com a mesma dor. Não podemos secar jamais o amor ao próximo e ao distante. Caso isso aconteça à humanidade irá evaporar na coisificação. Vamos à ação.