A decadência da Sinfônica

Rubens Nóbrega

Ainda bem que Beethoven morreu surdo, caso contrário estaria até hoje se revirando no túmulo depois de ouvir algumas de suas sinfonias mais famosas executadas pela Sinfônica da Paraíba com formação de orquestra de câmara.

Aconteceu quinta-feira (22) à noite no Cine Banguê do Espaço Cultural, em João Pessoa, de onde cultores e admiradores da música clássica saíram horrorizados por terem assistido a um “espetáculo da decadência”.

Qualificaram dessa forma a apresentação da Sinfônica com pouco mais de 30 músicos, quando o normal seria o dobro. Lamentaram ver instrumentistas dividindo o palco com ventiladores. Pelo visto, além de tudo, o ambiente onde tocavam exibia sinais visíveis de ruína, de péssima conservação.

“Também notei que muitos músicos não estavam vestidos a caráter, ou seja, não vestiam trajes dignos de um concerto sinfônico. Talvez, justamente, porque não se sentiam parte de uma Sinfônica”, observou a enviada especial da coluna que assistiu à apresentação de quinta (que nesse caso pode ser o dia ou a categoria).

O concerto só não foi mais deprimente porque salvaram a noite o talento e o profissionalismo de sempre dos nossos músicos, que na Sinfônica da Paraíba têm que prover e manter o próprio instrumento e acessórios com o salário ridículo que percebem (menos de dois salários mínimos).

Trata-se, portanto, de decadência material – jamais musical – daquela que já foi uma das mais positivas referências da arte e da cultura produzidas na Paraíba para o Brasil e o mundo.

Como se fosse pouco, seria dos piores o clima entre maestro e boa parte dos músicos. Pior ainda seria o relacionamento com o secretário Chico César, de Cultura do Estado, acusado de criticar e até desqualificar o trabalho do pessoal, de exigir muito e dar pouco ou quase nada do que os músicos querem, pedem e realmente precisam.

Diante de tamanha desafinação entre dirigentes, regentes e regidos, não surpreende que a Sinfônica esteja reduzida hoje a uma vaga lembrança do que um dia foi e deveria ser sempre: valiosíssimo patrimônio artístico-cultural permanentemente bem cuidado e crescentemente valorizado, como o era ao tempo em que foi criada por Tarcísio Burity.