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Governo federal rejeitou 70 milhões de doses da Pfizer; 3 milhões poderiam já ter sido aplicadas

Vacinas que deixaram de ser aplicadas equivalem a cerca de 20% das doses já distribuídas no país até agora

O governo brasileiro rejeitou no ano passado três ofertas da farmacêutica Pfizer , deixando de obter ao menos 3 milhões de doses em meio à escassez de vacinas contra a Covid-19. O volume, que era previsto até fevereiro, é equivalente a cerca de 20% das doses já distribuídas no país até agora.

O anúncio feito pelo Ministério da Saúde nesta última semana de que pretende comprar doses da vacina da empresa norte-americana ocorreram quase sete meses após a primeira oferta apresentada, que previa que as primeiras entregas feitas ainda em dezembro de 2020.

Duas das propostas feitas antes do que o governo diz ter aceitado agora —o contrato ainda não foi assinado— previam vacinas já em dezembro, quando imunizante passou a ser aplicado em países como Reino Unido e EUA. A terceira previa as vacinas em janeiro. Agora, membros do ministério tentam negociar com a empresa entregas a partir de maio.

A Pfizer não foi uma única a ter propostas rejeitadas. Documentos apresentados que outros laboratórios também tiveram ofertas que previam entregas mais cedo ignoradas, a exemplo do Instituto Butantan, que hoje é responsável por pelo menos 78% das vacinas já distribuídas no país contra a Covid.

Além disso, embora o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, tenha afirmado recentemente que encontrou em recuperação com o consórcio Covax Facility , da Organização Mundial de Saúde, as pessoas ligadas às conversas apontam que foi da pasta a decisão de adquirir doses para apenas 10% da população por meio da iniciativa.

Hoje, além da Coronavac, o Brasil aplica a vacina Oxford / AstraZeneca, cuja entrega tem enfrentado atrasos . Nesta semana, diante do agravamento da crise e do aumento da pressão de governadores, o Ministério da Saúde Saúde anunciou que prepara contratos com a Pfizer, Janssen e Moderna para obter 151 milhões de doses entre maio e dezembro de 2021.

O contrato com a Pfizer deve ser assinado nos próximos dias, depois que o presidente Jair Bolsonaro sancionar projeto de lei aprovado pelo Congresso que cria um ambiente jurídico mais favorável para que as cláusulas exigidas pela farmacêutica sejam atendidas, como a que isenta a empresa de responsabilidade por evento eventos adversos.

Embora tenha feito feitos anteriores com representantes do governo, a farmacêutica fez a primeira oferta em 14 de agosto de 2020, segundo informações fornecidas pela Folha . A proposta previa 500 mil doses ainda em dezembro de 2020, totalizando 70 milhões até junho deste ano.

As vacinas contra Covid-19 no Brasil

A Pfizer aumentou a oferta inicial quatro dias depois, elevando para 1,5 milhão o número de doses ainda em 2020, com a possibilidade de mais 1,5 milhão até fevereiro de 2021 e o restante nos meses seguintes.

Sem aprovação do governo, uma nova proposta apresentada em 11 de novembro. Com o passar do tempo, governos de outros países foram tomando o lugar do Brasil, e as primeiras doses ficariam para janeiro e fevereiro – 2 milhões de unidades. Dessa vez, o contrato ficou em vias de ser assinado, segundo pessoas envolvidas nas afirmações da Folha .

Em 7 de dezembro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou o plano para iniciar a vacinação em São Paulo no dia 25 de janeiro com as doses da Coronavac, envasadas pelo Instituto Butantan, ligado ao estado.

Bolsonaro, então, ensaiou reação na tentativa de contrapor o adversário político. Dias depois, o Ministério da Saúde chegou a anunciar um memorando de intenção para obter doses da Pfizer , mas a assinatura do contrato foi brecada pelo governo por causa das cláusulas contratuais envolvidas na negociação.

A partir de então, pressionado por não ter fechado o acordo governo passado a fazer críticas públicas à empresa.

Em 23 de janeiro, o ministério divulgou carta em que afirma que um eventual acordo causaria “frustração aos brasileiros” por envolver apenas 2 milhões de doses na entrega inicial. Naquela mesma semana, no entanto, uma massa comemorava ter importado número semelhante de doses do imunizante Oxford / AstraZeneca por meio da Fiocruz.

Pessoas que participam das tratativas viram a decisão de propaganda intenção de compra antes mesmo de Bolsonaro sancionar o projeto de lei aprovado pelo Legislativo como uma nova reação a Doria, que externou interesse em negociar com Pfizer e Janssen .

Antes de fechar com o Butantan, em janeiro, o governo federal vai ao menos três ofertas do Instituto Butantan para compra da Coronavac, segundo ofícios divulgados pelo laboratório.

A primeira foi feita em 30 de julho de 2020 e previa possibilidade de entrega de 60 milhões de doses ainda no último trimestre do ano passado, mas não houve retorno.

Ainda assim, uma segunda oferta foi feita em agosto, quando a previsão de entrega no último trimestre foi revista para 45 milhões de doses, com 15 milhões restantes no primeiro trimestre de 2021. Novamente foi ignorada.

Em novembro, o instituto refez a mesma proposta, adicionando mais 40 milhões de doses na sequência das entregas, mas a guerra política em torno da vacina já estava em curso havia pelo menos um mês, quando Bolsonaro fez o ministério recuar em uma intenção de acordo com o instituto.

A situação só mudou em 7 de janeiro, quando a pasta, enfim, anunciou o fechamento do contrato poucos dias antes do instituto entrar com pedido de uso emergencial da vacina na Anvisa e em meio a pressão do governo paulista , que já havia anunciado data de início da vacinação no estado.

No caso da iniciativa Covax Facility, documentos apresentados que cada país pode definir por doses para 20% da população ou mais.

“Quando a gente fala em 42 milhões de doses, o pessoal abre o olho. São 10% da população, por isso é que foram 42 milhões – 10%. É o máximo que a gente conseguiu nessa primeira negociação ”, disse Pazuello em fevereiro.

Segundo pessoas que acompanhamam como sucesso, a opção por apenas 10% veio do governo brasileiro, que apostava época em um acordo com a Fiocruz – que, até agora, só conseguiu entregar 4 milhões de doses.

Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Em audiência no Senado na quinta-feira (4), o secretário-executivo da pasta, Elcio Franco, disse que o ministério faz sobre vacinas desde abril de 2020, mas que óbices “técnicos” e “legais” impediram fechar acordos mais cedo .

“Em relação à Pfizer e à Janssen, nós tínhamos óbices legais, como também com o Butantan”, disse ele, segundo quem a contratação do instituto paulista só foi possível após medida provisória aprovada em janeiro.

A MP dizia que era possível fechar acordos para compra antes do registro da Anvisa, o que não foi obstáculo para que o governo acordasse com a AstraZeneca ainda em setembro de 2020.

As propostas da Pfizer ao governo

500 mil doses em dezembro de 2020

1,5 milhão de doses em janeiro ou fevereiro

30 milhões de doses no quarto trimestre

Proposta de 18 de agosto de 2020

1,5 milhão de doses em dezembro de 2020

1,5 milhão de doses em janeiro ou fevereiro

29 milhões de doses no quarto trimestre

Proposta de 11 de novembro de 2020

2 milhões de doses em janeiro / fevereiro

6,5 milhões de doses no segundo trimestre

61,5 milhões de doses, meio a meio, nos terceiro e quarto trimestres

Proposta de 15 de fevereiro *

2 milhões de doses em maio
7 milhões de doses em junho
10 milhões de doses em julho
10 milhões de doses em agosto
10 milhões de doses em setembro
20 milhões de doses em outubro
20 milhões de doses em novembro
21 milhões de doses em dezembro

* distribuição de doses atualizada em reunião nesta semana, segundo cronograma do Ministério da Saúde; as propostas anteriores foram pela Folha com as pessoas envolvidas nas alterações

Fonte: Folha de São Paulo
Créditos: Folha de São Paulo