Quem tem filhos sabe o quão desafiadora é a missão de educar um ser humano. Gosto de reforçar que educar é diferente de criar.
Criar uma criança é mais fácil e, qualquer adulto responsável, consegue desenvolver esse papel de cuidar e nutrir uma criança para que ela sobreviva. Mas será que queremos filhos sobreviventes?
Acredito que não. Certamente desejamos educar crianças para se tornarem adultos capazes e emocionalmente equilibrados e alcançar esse objetivo exigirá muito mais dos pais.
Viemos de uma geração que, a grande maioria dos pais eram extremamente autoritários e que ao querer impor apenas seus próprios desejos e vontades sobre as crianças, acabavam por desconsiderar o que as elas pensavam, sentiam e decidiam sobre si mesmas e sobre o mundo a sua volta.
Com o avanço da ciência na área do comportamento humano, com inúmeras pesquisas em torno do desenvolvimento infantil e como o cérebro se desenvolve nos primeiros anos de vida, podemos afirmar que o autoritarismo é um grande convite a rebelião infantil e vai na contramão do que os pais desejam alcançar: a colaboração de seus filhos. Os estudos mostram que somos capazes de aprender novas habilidades em qualquer época da vida, então nunca será tarde para mudar o que não está bom.
Seres humanos nascem ávidos por conexão e desejo de se sentirem amados, isso é valido para adultos também, porém, para uma criança, esses sentimentos são essenciais ao seu desenvolvimento. Educar de forma emocionalmente saudável, exige primeiramente, a compreensão dessas necessidades humanas básicas, pois sem esse entendimento, as relações entre pais e filhos viram uma grande disputa por poder.
Uma criança que tem suas emoções validadas, que possui abertura para se expressar sem medo de ser julgada ou criticada por seus pais, cresce muito mais segura de si e aprende a ter empatia para lidar não somente com suas próprias emoções, mas também com as emoções do outro.
Quando um pai ou uma mãe reprime um filho que chora ou que demonstra sua frustração diante de um não por exemplo, na verdade, estão lidando com suas próprias dificuldades emocionais, pois provavelmente aprenderam lá atrás que expressar as emoções não era algo bom ou que chorar quando se sente raiva não era permitido.
Então como educar uma criança para ser emocionalmente saudável se, na maioria das vezes, os pais ainda não aprenderam a lidar com as próprias emoções? Pais com raiva, gritam, mas não querem que seus filhos façam o mesmo. Pais que não possuem seus desejos atendidos se frustram, mas não querem que seus filhos pequenos façam o mesmo. E isso é muito incoerente, porque não podemos esquecer que as crianças não nascem prontas, mas aprendem com o modelo de seus pais.
Quando você lê essas palavras, provavelmente, sente um lampejo de consciência surgindo em seu caminho e esse é o primeiro passo para mudar sua forma de agir. A tomada de consciência é quando você para por um instante para questionar suas próprias atitudes ao invés de esperar que seus filhos mudem as atitudes deles. Mas eles não mudarão se você não mudar as suas primeiro.
A tomada de consciência nos leva a um segundo importante passo que é a busca do autoconhecimento, aquela visita a sua própria infância para ressignificar e aceitar sua história de vida e decidir deixar pra trás o que não foi bom e então ter a oportunidade de aprender a fazer diferente a partir de agora e parar de repetir um padrão aprendido sem se questionar sobre as consequências negativas dessas atitudes em sua vida.
Aprender que ensinar um filho a pensar e a tomar boas decisões na vida é mais importante que cobrar obediência cega e tentar doutriná-lo.
Que esperar a raiva passar para falar o que deseja é uma escolha mais acertada que gritar e ferir o outro para se arrepender em seguida.
Que esperar um birra passar, para ensinar aquela importante lição será melhor que querer resolver tudo na hora.
Que dar um abraço quando seu filho erra e focar em uma solução para o problema, pode surtir um efeito bem maior que um castigo, afinal todos cometemos erros, imagine uma criança!
Seres humanos sentem e aprender e entender essas emoções é a chave para uma vida adulta equilibrada. Quando somos crianças acabamos internalizando o aprendizado que recebemos no nosso ambiente familiar, incluindo crenças negativas e limitantes sobre nós mesmos e sobre a vida. Porém, como adultos, somos os únicos responsáveis por mudá-las e, principalmente, por não repassá-las aos nossos filhos.
Tomar a decisão de olhar para os comportamentos desafiadores do seu filho como uma grande oportunidade de ensinar importantes lições de vida, criará muito mais conexão e proximidade entre vocês.
Desenvolver, habilidades como autocontrole, tolerância e empatia, além de mudar sua realidade como pai ou mãe, mudará também os comportamentos desafiadores do seu filho pra muito melhor.
*Telma Abrahão, biomédica, especialista em educação emocional e autora de Pais Que Evoluem – Um novo olhar para a infância
Fonte: Estadão
Créditos: Polêmica Paraíba