Na qualidade de esposa de Zé Maranhão – expressão que continuo usando, por ainda não haver assimilado o termo “viuvez”-, devo fazer três relatos sobre o que temos visto e vivido, desde a sua partida:
1. Nunca pensamos que assistiríamos a um velório e a um sepultamento tão comoventes. Após o caixão descer do avião e ser recebido pelos cadetes, a minha filha, com a cadência e firmeza de uma rainha, seguiu acompanhando o esquife ao lado do filho de 9 anos (José Maranhão Neto), que correu ao seu encontro, na espontaneidade de uma criança que desconhece os protocolos.
A harmoniosa marcha fúnebre, tocada pelos músicos militares, encontrava eco em nossos corações.
Foi recebido pelo Governador do Estado, pelo Sr. Arcebispo e por demais autoridades civis e militares. Houve encomendação do corpo no próprio hangar, por Dom Delson e pelo Pastor Jean.
2. Sucederam-se o velório no Palácio da Redenção e a passagem do caixão pela frente da nossa casa, sob as bençãos dos Padres Zé Carlos e Evandro, e com a participação de moradores da vizinhança. Foram, todos, momentos tocantes… mas o que mais nos surpreendeu foi a recepção nas ruas, sobretudo pelos mais humildes.
De João Pessoa a Araruna, a emoção tomava conta dos que presenciavam a passagem do cortejo, com aplausos e acenos, acompanhados de bandeiras vermelhas, cor do seu partido, e de lenços brancos, da paz. Sua entrada na terra natal, ao lado da irmã Wilma Maranhão, e de seus sobrinhos, foi um momento de peculiar comoção. Havia prantos como aqueles das santas mulheres que acompanharam Jesus até o Gólgota.
3. Passaram-se três dias. Em igual espaço de tempo, ressuscitou o Mestre, para a nossa salvação. Sob nosso lar, porém, apesar de presente a Fé Divina que, certamente, nos levará adiante, ainda prevalece, neste instante, uma profunda tristeza, que nos abate, sem consolação.
Resolvemos que seu lugar na mesa seria ocupado por mim e que silenciaríamos, sem som e sem TV, por sete dias. Usaremos o luto. Guardaremos assuntos outros, diversos dos relatos e lembranças sobre sua vida, para depois. Haverá tempo!
Coisas de antigamente?
Eu e Meu Amor ensinamos mesmo aos nossos filhos, Alicinha, Léo e Letícia, e ao nosso neto Zé, costumes tidos por antiquados, como o hábito de pedir “a benção”.
Conhecendo-o melhor do que qualquer outra pessoa na Terra, eu tenho certeza de que, em sua contemplação celeste, ele se sente bem, ao constatar que seus familiares assimilaram, e estão colocando em prática, as lições que transmitiu.
Aguardaremos sete dias para voltar a viver o nosso normal. Um normal sem o maior bem de nossas vidas. Um normal para sempre tão diferente!
Fátima Maranhão.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba