Eu tenho guardadas muitas memórias jornalísticas com o senador José Maranhão, mas vou lembrar com especial zelo da nossa última entrevista, por telefone, para o Arapuan Verdade, da rádio Arapuan FM. Foi também uma das últimas entrevistas exclusivas dele para o rádio, quiçá para uma emissora radiofônica no estado. O diálogo foi no dia 19 de novembro do ano passado, dez dias antes do senador ser infectado pela Covid-19.
Daquela entrevista, em especial, duas reflexões. A primeira, de cunho político. José Maranhão estava animado com o resultado do primeiro turno e opinou que política se faz com diálogo, não com divisões e intrigas. “Em tese, é da essência da democracia as alianças políticas. Na política, como no amor, não raro se processa a união dos contrários”, disse ele ao autor desse texto ao pregar união de partidos em nome do interesse público.
Na ocasião, ele não descartou a possibilidade de vir a concorrer a um novo cargo público, ressaltando a imprevisibilidade do futuro, mas atestando que ainda tinha vigor, na altura de seus 87 anos. “Você joga confete na minha cabeça para puxar um sorriso, que seria eu fazer uma avaliação. E vou responder com toda sinceridade. Política não se faz a longo prazo, pois nesses dois anos muita coisa pode acontecer, muita água pode passar embaixo dessa ponte”, disse, com risadas do outro lado da linha.
A segunda reflexão daquela última entrevista ocorreu nos bastidores, após a gravação por telefone, e envolveu um diálogo sobre jornalismo. Zé disse mais ou menos assim para este repórter: “Felipe, gosto do seu trabalho, pois você repercute exatamente o que eu falo, sem distorcer”.
Naquela manhã, fiquei satisfeito com a entrevista: primeiro pelo furo de reportagem, com as declarações ousadas do senador, e depois pelo reconhecimento de um trabalho realizado com responsabilidade. Infelizmente, ninguém imaginaria que a Covid-19 seria o fator imprevisível, a água a passar debaixo da ponte que viria a inviabilizar os planos políticos de quem ainda tinha sonhos.
Hoje, na noite desta quinta-feira (11), ao refletir sobre tudo o que me disse o ex-governador naquele dia, naquela última entrevista, chego à inevitável conclusão: o ex-governador José Maranhão era exceção, no trato, um símbolo da política. Iria ainda mais longe, se no meio d caminho não tivesse o novo coronavírus. Ele foi um exemplo de trajetória pública. Foi esse o seu maior legado.
Feliz ao registrar, em rápidas palavras, a nossa última entrevista. A última com exclusividade para o rádio paraibano, tive o privilégio de conduzir.
Felipe Nunes – mestre em jornalismo pela UFPB, repórter da Arapuan FM e do Polêmica Paraíba.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Felipe Nunes