A " Dozimetria da História "

Bruno Filho

Um dos assuntos que mais preencheu as manchetes e noticiários das últimas semanas, foi o julgamento do tal “Mensalão”, depois de 7 anos voltou à tona com uma força extraordinária, a ponto de tornarem conhecidos e com seus nomes na ponta da língua Ministros do STJ, como se fossem artistas de televisão ou então cantores populares.

Nomes como Joaquim Barbosa,Lewandowsky,Gilmar Mendes, Ayres Britto e outros conviveram nas primeiras páginas de qualquer tipo de mídia que podemos imaginar.A grande preocupação, depois das condenações, passaram a ser as penas que seriam aplicadas.O povo, como num ultimato, exigia pressa para saber quanto tempo os condenados ficarão atrás das grades.

Encafifado com este fato inusitado da política brasileira, e que todos pudemos acompanhar ao vivo pela televisão como numa grande novela, digna de autores famosos,lembrei que alguns daqueles que lá estavam sendo julgados, fizeram parte de meu passado e tinham uma conotação totalmente diferente daquela que eu estava assistindo.

José Genoíno, ex-guerrilheiro, homem que deu parte de sua vida em favor da causa que era tirar o Brasil da ditadura militar, salvar o Brasil do poder da mão-de-ferro, dar liberdade aos jovens que quizessem crescer e fazer do país uma grande nação reconhecida mundialmente e que pudesse criar uma vida melhor no futuro,não aquela de tanques de guerra nas ruas.

José Dirceu, ex-presidente da UNE, que do alto de seus cabelos compridos e esvoaçantes comandava todos os estudantes ao lado de Vladimir Palmeira, aqueles que queriam ser universitários na época, espelhavam-se nos dois, jovens, bonitos e corajosos.Tudo o que vinha da UNE soava como ordem para os que queriam uma Universidade mais justa socialmente.

Não vou me referir a mais ninguém, pois estes dois nomes resumem o meu pensamento.Nunca fui um militante, sempre fui tranquilo e procurava apenas trabalhar e estudar como qualquer garoto, mas reconheço que vivi apuros com aquela época que eu não sei exatamente dimensionar a gravidade.Sabiamos que artistas e poetas, entre outros estavam exilados,alguns presos e mais nada.

Passados mais de 40 anos, me deparo com as condenações, que de certa forma me fizeram refletir, não só porque acredito na culpa de ambos,mas também pela desilusão de ver dois ícones transformados em marginais sem qualquer perdão. Repito, não vou mensurar culpa, não sou jurista para isso, mensuro sim a “dozimetria da história”.

O que passou a valer mais ? Li alguns comentários da filha de Genoíno comparando seu pai a um Deus da liberdade…será ? Vi comentário de Dirceu cobrando tudo aquilo que fez pela liberdade do país…será ? não sei responder.Sei que estou desiludido, pois como estes “ídolos de pano” foram desmascarados, outros poderão ser também no futuro, e a população
vai sofrer.

Acho que acima da história está o caráter da pessoa, o moral durante toda a vida e me consolo vendo que alguns não se corromperam e até hoje estão por lá.Posso citar Pedro Simon,cito Alvaro Dias, e indo mais adiante o simpático Eduardo Suplicy.O que me impele a dizer que independe de partido, ou é ou não é, então se não foram que paguem por isso.

Queria que fosse mentira, pois foram noites e noites angustiado nos recreios dos colégios,recebendo coquetéis “Molotov” assustadores que faziam as crianças correrem para nada…tanques e mais tanques de guerra nas calçadas para nada…mortes e mais mortes para nada… porém no final das contas todos eram iguais,”cesteiro que faz um cesto faz um cento”…como dizia minha vó Corina, e outra,…” quem rouba um tostão rouba um milhão”. Que pena !

Bruno Filho, que passou a observar a vida de outra maneira depois desse julgamento.Decepcionado.

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