Vice-presidente que ascendeu à Presidência da República com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, o emedebista Michel Temer disse, em entrevista à revista “Veja”, esta semana, que a petista é uma figura “de uma honestidade ímpar”, apesar de ter convivido “muito decorativamente” com ela. Temer já foi acusado por Dilma de ter conspirado nos bastidores, o tempo todo, para a queda de Dilma em seu segundo mandato. Hoje, na avaliação do ex-presidente, Dilma “cometeu crime no sentido institucional, que levou à sua responsabilização política, mas não cometeu crime no sentido penal”, acrescentando que, às vezes, se acusa a ex-presidente de eventual desonestidade, o que ele não endossa. A petista foi acusada de ter cometido “pedaladas fiscais” pelo Tribunal de Contas da União, bem como de outras irregularidades e erros de gestão.
Michel Temer lembrou que também foi alvo de pedidos de impeachment e de denúncias, formuladas, inclusive, pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que poderiam levar ao seu afastamento. “Sabe por que essas denúncias não foram à frente? Porque não tinha povo na rua. Se houvesse, muito provavelmente teria sido aprovado um processo contra mim”. Espécie de conselheiro informal do atual presidente Jair Bolsonaro, Michel Temer discorda da tentativa de impedimento do atual mandatário. Textualmente, enfatizou: “Todo impeachment é traumático. São meses e meses de um transtorno institucional extraordinário. Se puder esperar as eleições (em outubro do próximo ano) é melhor para a estabilidade institucional. Não vi crime de responsabilidade do presidente, mas teria de analisar os pedidos caso a caso”.
E cita um exemplo: “Dizem que Bolsonaro trabalhou contra a vacina, mas se você pegar as manifestações dele nas últimas semanas, ele até elogia o Estado chinês. Como é que vai levar adiante o processo se tem uma declaração dessa natureza?”. No caso do impeachment de Dilma Rousseff, Michel Temer ressalta que pegou o governo com um PIB de menos 3,6%. “Havia milhões de pessoas nas ruas protestando e uma ambiência no Congresso Nacional muito negativa para o então governo”. A respeito das declarações do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusando-o de ter conspirado contra Dilma, Temer respondeu: “O Eduardo, coitado, não foi o autor do impedimento, e nem eu. Ele teve de levar adiante alguns pedidos de impeachment que, ao ver dele, eram inafastáveis. Quem derrubou a ex-presidente foram os milhões de pessoas que foram para as ruas”. Preso na Operação Lava-Jato, Michel Temer comentou: “Eu não fui preso, fui sequestrado, um sequestro logo derrubado pelos tribunais superiores. É extremamente desagradável. Para a família, é um horror. Imagine os filhos, os meus netos vendo pela televisão. Isso deixou marcas naquele momento. Mas eu sou um homem que posso andar pelas ruas. Vou aos restaurantes e sou cumprimentado pelas pessoas”.
Michel Temer diz acreditar que o atual governo de Jair Bolsonaro possa ter um projeto de país, mas observa que se isto houver está confinado ao seu grupo, situado internamente na órbita do poder. “A simbologia forte é expressar isso em regras escritas. Por exemplo: a manutenção do teto de gastos públicos é uma coisa importante para a credibilidade do país, interna e externamente. O que você pode fazer para ampliar o valor pago aos vulneráveis sem derrubar o teto? Em situação de calamidade pública ou emergência, é possível usar os créditos extraordinários sem mexer no teto, isso está previsto na Emenda Constitucional do Teto de Gastos”.
Fonte: Os Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba