Muitos não concordarão com meu ponto de vista a respeito do Big Brother, programa que há mais de uma década faz sucesso na televisão brasileira. Dirão que é uma forma de entretenimento e que a população sofrida de nosso país precisa ter suas opções de diversão para fugir dos problemas que enfrenta no cotidiano. Argumentarão que assiste o “reality show” quem quer e os que não concordam com o seu estilo podem optar por outro tipo de programação televisiva.
Ouso discordar. Não consigo ver de forma tranqüila boa parte do Brasil se postar, em família, diante da TV, para assistir um programa inteiramente descomprometido com a educação e muito menos com a difusão de conhecimento. Tenho dificuldade em compreender o BBB como programa de lazer. Vejo com preocupação a audiência por uma faixa etária da população, ainda em fase de formação da personalidade, onde o forte da linha dominante é a exaltação dos atributos físicos, da ganância, das conspirações nas disputas, do egoísmo e da falsidade. É estarrecedor perceber que é recomendado para ser assistido a partir dos doze anos de idade.
O espetáculo de fofocas, futilidades e intrigas do dia a dia exposto pelos protagonistas do BBB passa a ser comentário dos brasileiros em casa, no ambiente de trabalho ou em qualquer outro local de convivência social. Esquecemos nossas próprias vidas para nos preocuparmos com a vida alheia, num indicativo alarmante do vazio moral e ético a que estamos sendo submetidos.
Não deixa de ser um insulto à inteligência brasileira e um empobrecimento da nossa cultura, a dedicação de tempo precioso da televisão ao estímulo de condutas anti-éticas, justificadas pela busca da fama e do dinheiro. Agrupam-se em um ambiente fechado alguns jovens, preferencialmente de corpos perfeitos, mas geralmente de mentes atrofiadas, para um embate interno em que os vitoriosos se tornam “estrelas” da mídia nacional ou modelos a posarem nuas em revistas masculinas. Os tele expectadores participam do show torcendo e votando conforme as suas preferências, contribuindo para que seus produtores tenham cada vez mais ganhos financeiros.
Os alienados que se tornam artistas do programa, sem qualquer noção dos seus limites, despertam a atenção de milhões de brasileiros que se alienam no outro lado da “telinha”. A sociedade narcisista, consumista e superficial, se inebria com os acontecimentos da casa.
É lamentável ver que esse tipo de programa termina por desempenhar um papel de orientador comportamental.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão