Escutas mostram milícia combinando extorsão

Escutas telefônicas divulgadas pela Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira (9) mostra integrantes de uma das milícias desarticuladas durante a Operação Squadre combinando ações criminosas. Em material disponibilizado após autorização judicial, integrantes da milícia que extorquia criminosos aparecem trocando informações sobre um novo alvo e acertando horários para cometer a extorsão.

Um suspeito conhecido como Paulinho surge conversando com um homem conhecido como Cego. A gravação se inicia com Paulinho perguntando se Cego tem interesse em ganhar dinheiro, que em seguida interessado o questiona onde conseguir. Paulinho aponta um jovem que costuma praticar assaltos a postos de gasolinas.

“Tem um boy aí que só rouba posto de gasolina, a gente invade a casa dele e pega ele”, indica Paulinho. Interessado em aceitar a proposta de extorquir o assaltante, Cego questiona onde mora o novo alvo. Após responder que o assaltante que será extorquido mora no bairro Esplanada, em João Pessoa, Paulinho explica como eles devem agir.

Cego: Mora ele e quem?
Paulinho: Só ele e a mãe dele. Tem como a gente invadir sem acertar a mãe dele, mas ele anda armado, visse?
Cego: Pronto, escuta: amanhã de manhã vou ligar para tu para gente ver essa casa aí então.

Após o primeiro contato para o novo alvo, Paulinho explica que o assaltante que será extorquido está debilitado, com um ferimento no rosto após ter sido baleado. Em um outro contato, os dois suspeitos conversam sobre a possibilidade de conhecer o local onde o criminoso que será extorquido mora, mas desistem da ação pois nenhum dos policiais civis que vão participar da extorsão estão trabalhando

Paulinho:Tu quer que passe na tua casa agora pra gente ir lá?…
Cego: Porque os boys tem nenhum em casa não, tão tudo lá na delegacia, eu já fiz contato com eles e eles vão vir amanhã de manhã.
Paulinho: Beleza porque… Era pra aproveitar que (…) estão em casa…
Cego: Isso é com calma, relaxa.

Os dois suspeitos continuam trocando informações até que descobrem que além do novo alvo, um irmão dele que também pratica assaltos poderia ser extorquido. Após outros contatos e visitas, Cego e Paulinho acionam os policiais civis que irão participar da extorsão. E alguns dias depois um grupo formado por Cego, Paulinho e mais três policiais civis realizam a extorsão com os alvos que Paulinho havia indicado.

De acordo com o delegado da Polícia Federal, Milton Rodrigues Neves, a milícia da qual Paulinho e Cego participavam praticava variados tipos de extorsão. Em algum dos casos os policiais infiltravam um civil entre os assaltantes ou criminosos, para que o infiltrado ligasse para um dos policiais da milícia e entregasse o grupo, no objetivo de proporcionar a extorsão.

“O Cego era colocado junto com um grupo de assaltantes e no momento em que iam praticar atos criminosos ele entrava em contato com os policiais da milícia indicado o local onde poderiam ser encontrados. Após a abordagem os policiais extorquiam os criminosos. Em um dos casos os policiais da milícia pegaram um dinheiro junto a um grupo de tinha realizado algumas cobranças, o prendeu por porte ilegal de armas e exigiu um pagamento de R$ 30 mil para que fossem liberados com as armas apreendidas”, completou Rodrigues Neves.