Pare de arengar, governador!

Rubens Nóbrega

A coluna de hoje seria para sugerir ou até pedir ao governador Ricardo Coutinho que chame a oposição para uma conversa séria sobre a seca que se abate sobre a maior parte do território paraibano, causando sofrimento a milhares de pessoas, sobretudo aquelas que dependem da nossa pobre base agropecuária para sobreviver.
Dessa conversa muito provavelmente sairia um plano bem articulado para enfrentar e minorar os efeitos da estiagem, que já coloca a Paraíba como o Estado onde se verifica a maior queda do país na safra de grãos deste ano, com redução estimada em 94% até setembro, segundo levantamento divulgado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Soube desse dado através do senador Vital Filho, um dos primeiros que o governador deveria chamar para essa mesa de discussão e encaminhamentos. Uma mesa que bem formatada e conduzida sem ranços ou prevenções de um lado contra o outro daria força, volume e peso ao grito de fome e sede dos paraibanos flagelados pela seca.
Duvido que a presidente Dilma e seus ministros não ouvissem o desespero da nossa gente nem despertassem da letargia ou deslumbramento em que parecem mergulhados após o resultado eleitoral do PT e partidos da base aliada. Duvido que providências não seriam tomadas de imediato, para além das ações pontuais, paliativos e assistencialismos de sempre.
Desgraçadamente, porém, não se vê, não se ouve nem se lê coisa alguma sobre qualquer passo que o governador tenha dado ou pretenda na direção de um mínimo de entendimento com os que lhe são divergentes. Ele não dá o menor sinal de que possa descer do salto ou do trono para dialogar com aqueles que lhe são diferentes e com eles manter a interlocução que a precisão da seca tanto reclama.
Dono da razão, senhor do tempo, encarnando o tipo que segundo o poeta Caetano “acha feio tudo que não é espelho”, Ricardo parece ter perdido a paciência e até o respeito para com os seus semelhantes. Isso no campo pessoal. Já no político, vem demonstrando apreço todo especial por desqualificar os adversários, fomentar inimizades, exercitar o confronto com qualquer humano ou força que a ele se contraponha de algum modo.
Se querem exemplos menos recentes, basta rodar na memória o que ele dizia de um Cássio Cunha Lima quando o hoje senador era governador e o hoje governador, deputado ou prefeito da Capital. Se querem os embates mais atualizados, só precisa lembrar o que ele disse e fez com Luciano Agra, seu velho companheiro de tantas jornadas.
Mas vamos lhe dar o benefício da dúvida, inclusive para não sermos tentados a compará-lo àquele escorpião que mata o sapo na outra margem do rio cheio e perigoso que atravessou nas costas do ingênuo batráquio, que do seu algoz antes recebera juras de que seria poupado.
Penso que em algum momento, após refletir sobre seus últimos resultados políticos, eleitorais e, principalmente, sobre o seu desempenho administrativo, Ricardo passará a lutar contra a sua própria natureza e não matará mais sapo algum. Nem que seja por necessidade. Necessidade de contar de novo com o sapo em outras travessias igualmente perigosas.


Explorando o próprio filho

Requeiro aos leitores licença poética (ou seria licença paternidade?) para cometer hoje uma corujice explícita, expondo os talentos do meu filhão Túlio com números e cálculos que via de regra fazem o pai incidir em memoráveis trapalhadas.
Contador por formação e bancário de profissão, o garoto deve ter herdado do avô Vicente o jeito para a matemática, porque nessa matéria sempre fui reconhecida e comprovadamente uma nulidade, verdadeiro e rematado desastre.
Pois bem, a pedidos de familiares, domingo último o meu Túlio analisou os resultados da eleição na Capital e deles extraiu nuances e curiosidades que ainda não vi abordadas ou exploradas por qualquer dos analistas categorizados do ramo.
O produto final da análise é o texto que ele me mandou ontem e do qual me aproveito despudoradamente. E, cá pra nós, o escrito do menino tem uma qualidade que também não vejo muito por aí. Peço que leiam com atenção e depois me digam se tenho ou não razão de ser coruja.
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Pai, domingo à noite estava utilizando o computador e fui perguntado por muitos familiares de Andréa (é a minha nora) sobre o resultado das eleições, com seus números e percentuais e desta forma fui “forçado” a realizar uma análise dos números e resolvi lhe repassar algumas conclusões a que cheguei. Vamos lá.
Em números absolutos, Luciano Cartaxo obteve 246.581 votos (68,13% dos votos válidos) e Cícero, 115.369 (31,87%). O prefeito eleito aumentou sua votação em 104.423 votos em relação ao primeiro turno. Já o senador teve a sua votação elevada em 40.199 votos. O crescimento da votação dos dois candidatos juntos foi de 144.622.
O curioso nesse caso é constatar que, somadas, as votações de Estelizabel e Maranhão (3º e 4º colocados no primeiro turno) totalizam 144.476 votos. Repare como esse número é parecido com o crescimento da votação dos candidatos que disputaram o segundo turno. Coincidência? Acho que não…
Outros dois fatos que podem até ter decepcionado os mais fiéis seguidores de determinada liderança estadual foi o “pequeno” acréscimo no número de abstenções. No 1º turno; 72.852; no 2º turno, 82.793. Aumento de 9.941 votos. Número muito próximo da votação dada aos chamados candidatos nanicos, que juntos obtiveram 9.124 votos.
O outro fato curioso é que, apesar de alguma movimentação nesse sentido por pessoas que incitaram os correligionários a votar nulo ou branco, não houve crescimento significativo destes votos. Vejamos: votos em branco no 1º turno, 13.690; no 2º turno, 11.758. Ou seja, ocorreu uma diminuição de 1.932 votos em branco. Quanto aos votos nulos: 22.745 no 1º turno e 23.720 no 2º, o que significa um acréscimo de 975.
Concluindo: os pessoenses não abriram mão de escolher o seu governante. Mesmo aqueles que acompanharam as candidaturas derrotadas no primeiro turno fizeram suas escolhas.