Alvo de uma operação deflagrada ontem contra milícia que atua em Magé, na Baixada Fluminense, o candidato à prefeitura e vereador André Antônio Lopes do Nascimento se envolveu em 13 homicídios entre 2010 e 2012, quando ainda policial militar e estava em serviço nas ruas. Conhecido como Sargento Lopes, ele respondeu a diversos processos por supostos crimes na PM, mas nunca foi condenado em definitivo.
Sargento Lopes disputa a Prefeitura de Magé pelo PSD e é um dos alvos de uma operação deflagrada pela Polícia Civil e pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) para desarticular uma milícia que atua na cidade. De acordo com o delegado Moyses Santana, titular da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, tanto o candidato quanto seu filho, que é PM, têm relação estreita com a quadrilha.
“Detectamos um vínculo forte entre o Sargento Lopes e essa organização criminosa. Ele facilitava a atuação do bando ao não reprimir os crimes”, disse o delegado em entrevista à TV Globo. O filho de Lopes já se tornou réu no caso.
A investigação de ontem é mais uma em um longo histórico de suspeitas de crimes em sua carreira como PM. Entre fevereiro de 2010 e fevereiro de 2012, Lopes se envolveu em 13 homicídios decorrentes de intervenção policial, conhecidos no jargão técnico como autos de resistência.
Com isso, foi um dos 20 PMs que mais se envolveram em mortes entre 2010 e 2015, de acordo com levantamento feito pelo jornal O Globo em 2017. O grupo de 20 PMs foi responsável por mais de 10% de todos os homicídios cometidos por policiais no Rio nesse período.
Nos registros de ocorrência dessas mortes, analisados pelo UOL, Lopes e seus companheiros de guarnição descrevem quase sempre uma narrativa similar: faziam patrulhamento em comunidades de Duque de Caxias, deparavam-se com criminosos armados e eram atacados a tiros, só então reagindo.
Apesar da situação de suposta desvantagem, não há nos documentos nenhum registro de que algum PM tenha se ferido nessas ocorrências, que deixaram 13 mortos. Em seis delas, só foram apreendidos revólveres e pistolas —armas curtas, que diferem do armamento de grosso calibre usado por soldados do tráfico, como fuzis, espingardas e metralhadoras.
Pouco depois dessas mortes, ele se licenciou da PM e disputou uma vaga de vereador em Magé — não tendo sido eleito. Ele viria a ter sucesso nas urnas em 2016, quando se elegeu vereador pelo PDT. Lopes disputou eleições também em 2004, 2008 e 2018.
Prisão por corrupção e histórico de processos
Lopes foi um dos 65 PMs presos na Operação Purificação, em dezembro de 2012. A megaoperação encontrou indícios do envolvimento de dezenas de homens do 15º BPM (Duque de Caxias) em um esquema de corrupção, com pagamento de arrego por traficantes do Comando Vermelho para reduzir a repressão em comunidades dominadas pela facção no município.
De acordo com as investigações, ele era conhecido como King Kong no esquema. Um dos “bondes” formados por PMs que cobravam arrego do tráfico era conhecido justamente como Bonde do King Kong, segundo divulgou o MP-RJ à época.
Sargento Lopes foi expulso da PM em decorrência das investigações, mas uma decisão da 9ª Vara Cível do TJ-RJ suspendeu os efeitos da decisão da Corregedoria da corporação. A expulsão só voltou a valer, após decisão de segunda instância, quando Sargento Lopes já estava em pré-campanha para vereador, em 2016.
Na Justiça comum e militar, o candidato respondeu a diversos processos decorrentes de supostos crimes cometidos durante sua carreira como PM, mas nunca foi punido.
Na Justiça Criminal, ele respondeu a dois processos: no primeiro, de 2012, foi absolvido de acusações de tortura, falso testemunho e concurso material. No segundo, aberto em 2017, a acusação de fraude processual foi arquivada sem resolução de mérito.
Na Auditoria de Justiça Militar, Lopes responde a três processos por concussão, extorsão mediante sequestro e associação criminosa abertos em 2011, mesmo período em que se envolveu nas mortes. Contudo, nenhum deles foi sequer julgado em primeira instância até hoje.
Outro lado
Durante toda a tarde desta segunda-feira, o UOL tentou contato com Sargento Lopes, seus advogados e assessores, mas não teve sucesso.
A reportagem enviou para três e-mails divulgados pelo candidato quatro perguntas a respeito da investigação sobre milícias deflagrada ontem, seu histórico de mortes na atividade de policial militar e sobre os processos que responde na Justiça, mas ninguém respondeu.
O UOL também falou com a advogada eleitoral de Lopes, Rosana Juvêncio, que se comprometeu a repassar o contato da reportagem para o advogado que representa o candidato em questões criminais.
A reportagem ligou ainda para a Câmara Municipal de Magé, mas recebeu a informação de que não havia ninguém no gabinete de Sargento Lopes.
Em vídeo publicado em sua página no Facebook, o candidato negou ser miliciano, disse ter certeza de sua inocência e afirmou que os policiais não acharam nada de irregular em sua casa.
“Foram na casa do Sargento Lopes, foram bem recebidos, tomaram até café comigo. Olharam minhas armas, olharam minha casa toda, toda, toda. Não acharam nada de ilegal, olharam meu carro, todos os meus documentos”, afirmou ele.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Uol