A morte repentina de Tom Veiga, que interpretou o famoso Louro José durante 20 anos, causou comoção nacional, justamente por fazer parte da história da TV brasileira. A Splash foi atrás de profissionais que fazem sucesso manipulando os bonecos na TV, além de contar as principais curiosidades e mostrar os rostos deles.
Eduardo Mascarenhas, o Xaropinho
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Eduardo começou a gostar de arte aos 15 anos, quando virou roteirista de histórias em quadrinhos da editora Abril. Chegou a trabalhar em uma montadora de automóveis em seguida, mas, com uma rotina puxada e recebendo um salário mínimo, decidiu criar bonecos para fazer palestras em escolas.
“Nas escolas as professoras falavam, ‘seu trabalho é bacana, leva para a televisão. Viu que surgiu um papagaio?. O Louro José era estreante e comparavam meu trabalho com o dele. Isso me inspirou. Comecei então a frequentar a plateia do Ratinho na Record em 1997 para fazer contato com a televisão.”
Ratinho estava arrasado porque havia acabado de perder a dupla E.T e Rodolfo para Gugu Liberato. Foi então que Eduardo fez uma proposta em 1998 para o apresentador, até então resistente de colocar um boneco em seu programa.
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“Eu falei, ‘se você por um boneco no programa e deixar registrado, se eu quiser sair um dia, o boneco fica. O Ratinho estava traumatizado com aquela traição e falou ‘vamos fazer’. Colocou o boneco no ar, registrou e a gente está até hoje desde 98 no ar.”
Fernando Gomes, o Julio do “Cocoricó”
Fernando era fã dos bonecos do programa “Bambalalão”, da TV Cultura, e decidiu usar suas habilidades manuais para criar o próprio boneco em 1986. O resultado fez sucesso entre os atores da atração, que encomendaram alguns. “Fui indicado para substituir um ator durante uma semana, topei e não parei”.
Júlio só estreou no “Cocoricó”, onde fez muito sucesso em 1996. Bem antes disso, em 1989, o personagem fez um especial de Natal da TV Cultura.
“Ele se comunica muito bem não só com crianças. O Júlio é de um programa infantil, mas que os adultos amam. A relação dos adultos com ele é muito boa.”
“Cocoricó” saiu do ar em 2013, mas o personagem ainda está tão presente na memória de adultos, que são muitos os inscritos no Canal do Júlio no YouTube.
“Ele mexe com a memória afetiva das pessoas, tem um resgate a nossa infância quando um boneco tem vida, ele é bem feito, vira uma volta à infância”.
“Depois que você é adulto, vê um pedaço de espuma falando com você, remete todo mundo de volta à infância. Por isso acredito no sucesso dos programas bem feitos com personagens bonecos bem vivos.”
Deu vontade de se aventurar nessa profissão? Fernando Gomes dá a dica!
“Sugiro que sejam bons espectadores e críticos das coisas e trabalhos com bonecos para falar do que gosta ou não. Se joga, começa a manipular, procura bastidores de programa. Amo essa profissão, é muito legal e divertida”.
Quiá Rodrigues e Renato Spinelli, os cavalinhos do “Fantástico”
Renato Spinelli se divide com Quiá Rodrigues para dar vida aos Cavalinhos do Fantástico. Cada um deles é responsável por 10 bonecos e tem que diferenciar os personagens, que têm sotaques diferentes. Algumas cenas são gravadas e outras, ocorrem ao vivo, no improviso, já que alguns jogos acabam tarde.
“Eu e o Quiá somos de improvisar normalmente, mas ensaiamos os textos do Tadeu e damos alguns pitacos para dar uma temperada na atuação. Mas acontecem improvisos porque são inevitáveis.” disse Renato.
Renato
Renato começou a gostar da profissão admirando o trabalho de Jim Henson, criador dos Muppets. Ele fez seu primeiro trabalho no filme “Os Trapalhões nas Terras dos Monstros”. Passou pelo “Clube da Criança”, apresentado por Angélica na Manchete, depois “TV Colosso” e, por fim, esteve com a Xuxa.
“Numa gravação com a Xuxa, a dentadura do boneco pulou e quicou na minha cabeça, não achei exatamente engraçado, mas ela teve um ataque de riso e tivemos que interromper a gravação.”
Anderson Clayton, o Guinho
Aos 16 anos, Anderson sonhava em ser ator e dublador e se inspirou na mãe que fazia trabalhos com fantoches na igreja. Guinho, o assistente de Palmirinha, foi criado por Anderson e era companheiro dele em trabalhos voluntários em hospitais infantis antes da TV.
“Os bastidores da TV são fascinantes. Lembro de uma briga entre Clodovil e Christina Rocha, o Guinho estava nos programa ‘Mulheres’ e eles trocavam farpas.”
Parceria
Assim como Louro José ajudava Ana Maria a lembrar algum ingrediente de uma receita ou corrigir alguma informação, Guinho também tinha essa função de auxiliar Palmirinha no programa. Na longa parceria, ele presenciou alguns imprevistos.
“Vi a Palmirinha passar mal quando ela recebeu um abraço do Jair Rodrigues já na Fox. Teve uma que virou um meme também que é ela falando que não lembra o nome da faca e o Guinho ficava falando. Essa história viralizou no Brasil todo.”
Dores e desconfortos
A profissão parece ser bem divertida, mas nos bastidores, alguns profissionais sofrem por passarem horas com os braços levantados e escondidos atrás de bancadas.
“Tinha câimbras fortíssimas por causa do braço levantado, é desconfortável, mas são ossos do ofício”, diz Anderson.
“Tenho tendinite, bursite, complicações por conta dos mais de 20 anos manipulando o Xaropinho. Ele aparecia no buraco e eu ficava ali deitado o programa inteiro com o braço para cima, era bem difícil.” Eduardo Mascarenhas
“A posição não é a mais saudável do mundo e as dores fazem parte do ofício. Eu tenho o hábito de descansar com a mão pra cima e a cabeça abaixada para o lado”, conta Spinelli.
Louro José era referência
Apesar de todos serem artistas experientes na TV, eles são unânimes em destacar toda a admiração que tinham por Tom Veiga, considerado uma referência.
“Ele tinha o mesmo gosto que nós pelo improviso. Sem dúvida ele foi uma referência de quanto o boneco pode ser relevante na TV.” Renato Spinelli
“Ele era boneco e produtor do programa da Ana Maria. As ideias deles eram ótimas. Quando coloquei o Xaropinho no ar, coloquei no mesmo espírito, de ser o apoio do Ratinho.” Eduardo Mascarenhas
“Ele só se segurou com tanta dignidade por tanto tempo porque o Tom era excepcional. A relação do Louro José com a Ana era fantástica. A gente só tem que agradecer muito ao que o Tom deixou dessa história.” Fernando Gomes
“Ele deixa um legado e serei eternamente grato porque ele chamou a atenção que atrás do personagem tem um ator, que fica horas trabalhando e merece todo respeito. As pessoas me chamavam de ‘Louro’ da Palmirinha, me sinto honrado.” Anderson Clayton
Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba