Ricardo: Uma ausência ilustre na eleição para prefeito de JP

Nonato Guedes

Pessoense da gema, nascido em 18 de novembro de 1960, o governador Ricardo Vieira Coutinho constitui-se numa ausência ilustre num dos pleitos mais decisivos da história política da capital paraibana. Sem fichas no segundo turno, que acaba domingo com a volta dos eleitores às urnas para decidir o substituto de Luciano Agra (sem partido) e seu ex-auxiliado, além de “cria política”, Ricardo assiste desconfortável, embora não passe recibo, ao confronto entre o deputado estadual Luciano Cartaxo, do PT, e o senador Cícero Lucena, do PSDB. Cartaxo protagonizou um fato novo, ontem, na reta final, ao trazer para seu palanque o ex-presidente Inácio Lula da Silva, que se mantém como líder carismático e tem prestígio na Paraíba, em face das realizações que empreendeu, ao contrário da sucessora, Dilma Roussef, que, embora atendendo reivindicações pontuais do Estado, recusa-se terminantemente a visitar a Paraíba, que lhe deu vitórias consecutivas em 2010. O pretexto invocado por assessores de Dilma é o de que ela não fica à vontade devido a divergências políticas acirradas entre grupos que compõem a sua base de sustentação. Uma presidente da República está acima dessas querelas. Mas, o fato concreto é que Dilma vem ao Nordeste e faz ‘pit stop’ em Pernambuco, a uma pequena distância da capital paraibana.

No caso do governador Ricardo Coutinho e sua posição diante da conjuntura política, o desconforto de estar ausente do segundo turno é agravado pela circunstância de que ele construiu em João Pessoa toda a sua trajetória política, inicialmente vinculando-se a movimentos sindicais, posteriormente enfronhando-se em movimentos sociais. Foi isto que lhe deu o passaporte para alçar a mandatos de vereador, deputado estadual, prefeito por duas vezes e ascender ao governo do Estado com notável quantidade de sufrágios no maior colégio eleitoral do Estado. Houve fatores, naturalmente, que conspiraram para essa situação complicada do governador no páreo em andamento. Ele se descuidou da retaguarda do seu esquema na preparação de uma candidatura competitiva em condições de vitoriar, se fosse o caso, já no primeiro turno. Nos primórdios das discussões, ventilou-se no seu círculo a hipótese da candidatura de Luciano Agra à reeleição. Mas Criador e criatura logo se desentenderam depois que Ricardo sentou na cadeira do Palácio da Redenção e Agra aboletou-se no gabinete do Centro Administrativo Municipal, onde Coutinho dava expediente. O governador dá a entender que nunca absorveu uma postulação de Agra, que marcaria a sua iniciação plena na atividade pública, já que em 2008 foi votado na chapa encabeçada por Ricardo, que pleiteou a reeleição à prefeitura.

Em meio às divergências que pontuaram o relacionamento entre ambos, Agra oficializou o pedido de desfiliação do PSB, o que deu a Ricardo a liberdade de indicar a candidata Estelizabel Bezerra para representar as cores do partido na disputa. Apesar de sua inserção nos movimentos sociais e políticas públicas, Estelizabel Bezerra não tinha passado, ainda, pelo vestibular político. Demonstrou preparo nos debates e nas intervenções, e teve como vice o deputado federal Efraim Filho, cedido pelo Democratas. O agrupamento antes liderado de forma monolítica e centralizadora pelo ex-aluno do Instituto La Salle e pelo formando em Farmácia, filho de pai agricultor e de mãe costureira e casado com a jornalista Pâmela Bório, se desagregou por inteiro, e registrou outra baixa de peso: a desconexão de Nonato Bandeira, ex-secretário de Comunicação, que funcionava como espécie de “alter ego” de Coutinho e de porta-voz no estilo “bateu, levou”. Nonato foi compor a vice de Luciano Cartaxo, apoiado por Luciano Agra.

Estelizabel, não obstante os percalços, logrou ficar em terceiro lugar no primeiro turno, com votos superiores aos do cacique peemedebista José Maranhão. Fez, por assim dizer, uma estreia positiva, não fosse o fato de que o outrora ‘Coletivo Ricardo Coutinho” estava despedaçado. A ex-secretária de Planejamento e ex-candidata a prefeita resolveu declarar neutralidade no segundo turno, aparentemente obedecendo a uma diretriz do governador Ricardo Coutinho, que não identificou em Cartaxo nem em Cícero qualidades para levar adiante o projeto de mudança que ele diz ter implementado em João Pessoa. O resultado é que o governador ficou praticamente ‘sitiado’ em João Pessoa neste segundo turno, cuidando essencialmente da parte administrativa, enquanto a disputa política-eleitoral ganhou cores de acirramento e radicalização. Estelizabel Bezerra está no aquecimento para assumir uma influente secretaria de Estado, dentro do remanejamento que o governador colocará em prática. Entretanto, 2012 entrará na memória de RC como um ano para ser definitivamente esquecido ou pouco lembrado, a não ser para efeito de reflexões sobre o futuro, que o aguarda em novos embates.