VÍRUS AINDA EXISTE

CORONAVÍRUS: Aglomerações indicam que parte da população normalizou a pandemia e suas vítimas - por Rebeka Melo

"A pandemia acabou" essa provavelmente é a frase que mais aguardada pelo mundo inteiro. "A vacina já chegou" é com certeza a notícia que todo jornal quer ter com exclusividade.

“A pandemia acabou.”. Essa provavelmente é a frase que mais aguardada pelo mundo inteiro. “A vacina já chegou.” é com certeza a notícia que todo jornal quer ter com exclusividade. Mas de fato a pandemia já acabou pra muita gente. Não sabemos explicar por quais motivos, ou quais as justificativas, se é que se existe justificativa pra tanta imprudência. O que vemos são bares cheios, calçadas lotadas e diversas pessoas andando sem máscara como se nada estivesse acontecendo.

Para os incrédulos não existe pandemia, existe um exagero nos números, e um alarde nos canais de informação. É mais fácil acreditar que é mentira, do que acreditar que o vírus existe, e infelizmente não foi embora. Quem não acredita, não acreditou desde o início, e não é agora que vai começar a acreditar. Ser negacionista é muito mais prático. Não se importar com quais pessoas podemos afetar se passarmos o vírus, é confortável sim. E certamente é isso que os aglomeradores de plantão devem fazer.

A economia é a justificativa que todos usam, e ela é sim muito importante e deve ser recuperada. O governo apostou no auxilio emergencial pra isso. Não foi apenas pensando no pobre, foi pensando também nos empregadores que os R$ 600,00 foram “dados” ao povo. Foi com esse dinheiro que muita gente se manteve e ajudou que muitos negócios continuassem. O dinheiro girou, e a internet foi aliada dos pequenos e grandes negócios. O comércio em sua grande parte não fechou, até de forma irregular uma parte seguiu funcionando. Em Mangabeira, bairro cheio de comércio, todo dia parecia dia normal.

Orla de Cabo Branco em meio a pandemia.

Mas agora, com a volta regular de restaurantes o povo viu a necessidade de sair. Não sair só, ou em dupla; sair em um grupo mesmo. Como uma dia normal. A calçada da orla de Cabo Branco quase não consegue comportar a quantidade de gente que quer ficar no mesmo metro quadrado. Os jovens agendam encontros, “Hoje vai ter passinho na praia” e lá se vão, espalhando vírus pra quem quiser, e pra quem tiver o azar de passar por eles.

Só na Paraíba até o dia 11 de outubro, 2.914 pessoas faleceram vítimas do coronavírus. São quase 3 mil! Dentro desse número estão muitos avós que nesse ano não estarão com seus netos no dia das crianças. Vai faltar o colo e o afago mais quentinho que só o colo de avó tem. É redundante, mas é necessário lembrar, quanta dor ainda deve existir no peito de tantos filhos, e de tantos homens e mulheres que perderam seus companheiros de uma vida toda. Mas simplesmente esquecemos aquelas histórias tristes que víamos no início da pandemia e normalizamos a morte. Sempre é mais fácil não pensar. “Ah, mas é só uma saída rápida pra tomar uma cervejinha.” A saída é tão rápida quanto esse vírus traiçoeiro. Mais de 125 mil pessoas tiveram coronavírus na Paraíba. Quantos desses não fizeram só inofensivas aglomerações, transmitindo para outros que não resistiram.

Normalizamos a morte, mas precisamos mesmo normalizar é a loucura. A loucura de ir contra esse tipo de pensamento. A loucura de mesmo com tudo parecendo normal, resistir por nós e por outros. Isso sim devia ser o normal. A loucura de continuar em casa, se isolando e protegendo pessoas que nem conhecemos. O novo normal não existe, o que existe é gente que não é normal insistindo em viver uma realidade paralela fingindo que não vivemos o caos da pandemia.

Fonte: REBEKA MELO
Créditos: Rebeka Melo