Briga política faz mal à saúde

Rubens Nóbrega

Dos mais competentes e corajosos com quem tive a felicidade de trabalhar, o jornalista José Euflávio postou ontem no GiroPB (giropb.com.br) brilhante comentário sobre os graves problemas que afetam os serviços públicos de saúde na Paraíba, particularmente na Capital.
Sob o título “A Saúde e as Promessas”, Euflávio mostra que praticamente todos os candidatos a prefeito de João Pessoa prometeram – e os dois finalistas continuariam a prometer – um paraíso de eficiência no setor a partir de 1º de janeiro de 2013, mas a realidade, a precariedade e a complexidade da saúde pública reduzem a pó, desde já, as ilusões de que tudo será resolvido por decreto ou mágica.
Como exemplo ou prova da imensa distância entre as promessas de resolver e as condições objetivas de enfrentar a questão, o colunista e editor do GiroPB relata a situação em que se encontra o Ortotrauma de Mangabeira, hospital que segundo ele “vive o tempo todo superlotado” e onde também “existe uma verdadeira fila da morte, face ao encaminhamento de pacientes refugados pelo Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena”.
Assuntei sobre as razões da superlotação e refugo de que fala o colega. Fui bater na porta da Secretaria Municipal de Saúde, vez que o Trauminha de Mangabeira é patrimônio da Prefeitura de João Pessoa e, portanto, subordinado ao órgão desde 2005 dirigido pela Doutora Roseane Meira. Para minha sorte – e dos leitores, talvez – ela atendeu e me explicou assim os traumas operacionais daquele hospital:
– Estamos com muitas dificuldades na relação institucional com o Hospital de Trauma, o que acarreta obstáculos enormes ao bom funcionamento do Ortotrauma. Hoje temos macas no corredor (pois não mandamos de volta os pacientes), enquanto o Trauma faz uma triagem pouco criteriosa e os pacientes são atendidos com muita dificuldade, especialmente para internação.
O pior é saber – e ela deve admitir ser verdade – que tais dificuldades decorrem do rompimento das relações políticas e até pessoais entre os dirigentes da PMJP e do Governo do Estado. Inclusive porque, para além do rompimento, irrompeu uma guerra de farpas poucos sutis e agressões verbais explícitas entre dois grupos. Não demorou, sobrevieram manobras de lado a lado, de um para desestabilizar o outro, fazendo com que os antigos passageiros do Coletivo RC entrassem em choque e depredassem até a perda total o ônibus do destino que os conduziria pela fantasia do poder eterno.
Com o advento da campanha eleitoral em curso, os resultados de primeiro turno (com a derrota da riquíssima campanha da candidata do governador Ricardo Coutinho à Prefeitura da Capital) afastaram ainda mais a possibilidade de um convívio mínimo no campo administrativo e profissional entre as duas esferas de governo.
Por sua vez, por sua postura de gestora e opção política atual, em radical oposição às ambições do governador Ricardo Coutinho de voltar a mandar na Prefeitura da Capital, Roseane acredita ainda que hoje ela é a “inimiga pública nº 1” da Secretaria de Saúde do Estado e, por extensão, do nº 1 do Governo da Paraíba.
Nesse confronto de egos e projetos de poder, as maiores vítimas são as pessoas inocentes e pobres em sua maioria que recorrem aos hospitais de emergência da cidade e são recusadas ou jogadas em corredores onde vivem a agonia da espera. Espera por um simples atendimento ou pela mais arriscada cirurgia da qual dependa uma vida.


Nova caça às bruxas no Trauma?

A exoneração do Doutor Ginaldo Lago do cargo de diretor-geral do Trauma, ontem pela manhã, deu gás às especulações de que estaria em curso uma nova caça às bruxas naquele hospital, mas o próprio exonerado, com quem falei à tarde, garantiu-me que saiu por questões pessoais, sobretudo de saúde.
– É muito estresse, estou com 56 anos, hipertenso, já havia decidido sair há uns dois meses, inclusive para atender aos apelos de minha família – disse o médico, a quem o governo e a donatária do hospital, a Cruz Vermelha, deveriam (e muito) alguma melhoria de atendimento e resolutividade no Trauma da Capital.
A própria Roseane manifestava temores de que o afastamento de Ginaldo da direção do Trauma, somada a outras demissões que se seguiriam, pioraria ainda mais o atendimento para urgências e emergências, assoberbando até o limite do insuportável a demanda pelos serviços do Trauminha.
“Tentar nos prejudicar é a tônica e, por outro lado, a Cruz se beneficia fazendo economia. Esse cenário não pode falar mais alto que a atenção ao usuário!”, exclamou, com sincera indignação, a secretária de Saúde de João Pessoa.
“Serra garante o segundo lugar”

A provocação é do Eskerdopata, referindo-se à pesquisa Ibope divulgada ontem que coloca Fernando Haddad (PT) 16 pontos à frente de José Serra (PSDB) na disputa em segundo turno pela Prefeitura de São Paulo. O candidato petista tem 49% das intenções de voto dos paulistanos, contra 33% do tucano.
Não cantaria vitória tão cedo assim, mesmo sabendo que a situação de Serra é tão difícil quanto a de seu correligionário Cícero Lucena em João Pessoa, que concorre à Prefeitura da Capital contra o petista Luciano Cartaxo. De qualquer forma, não resisto em repicar ou fazer uma boa provocação.
Tanto que não deixo de observar: apesar de todo o esforço da grande imprensa para criminalizar Lula e o PT na carona do processo do ‘mensalão’, o julgamento que rola no Supremo não surtiu até aqui, nem de longe, o efeito que raivosos antipetistas em geral e antilulistas em particular esperavam produzir no julgamento do eleitor.