Falta até sabão no Trauma

Rubens Nóbrega

Não para de surpreender e preocupar o que acontece nos bastidores do Hospital de Trauma da Capital, incensado pela mídia oficial e oficiosa como padrão de excelência em atendimento e resolutividade depois que foi alugado à Cruz Vermelha pelo governador Ricardo Coutinho.
É bom esclarecer que lá, por uma dessas inovações espetaculosas da República Girassolaica, o contrato de locação traz locador e locatário em posições invertidas. É o locatário quem paga o aluguel para o locador tomar conta. E o preço do aluguel é salgado: R$ 7,5 milhões por mês.
Esse custo não ia além dos R$ 4,5 milhões por mês no tempo em que o Trauma era administrado pelo próprio poder público, ou seja, no tempo em que esse monumental patrimônio da saúde pública da Paraíba preservava o caráter público da administração sob domínio do Estado e não era objeto de cobiça ou interesses privados.
Mas, como disse no começo, não para de surpreender e preocupar o que acontece internamente no Trauma, talvez sem o conhecimento, mas com certeza sem a menor possibilidade de divulgação na mídia oficial e oficiosa ricamente sustentada com dinheiro do contribuinte pelo Ricardus I.
Para que as senhoras e senhores tenham uma ideia, reproduzo a seguir a sequência de i-meios trocados com uma fonte interessada em ajudar a melhorar as condições de trabalho dos profissionais de saúde entregues à Cruz Vermelha, a locadora de hospitais rentáveis que tem seu nome frequentemente vinculado a escândalos de repercussão nacional.


Vejam a denúncia

Caro Jornalista, tenho informações de pessoas que trabalham no Hospital de Trauma de que falta de tudo para os funcionários. Falta, inclusive, sabão para enfermeiros e médicos lavarem as mãos.
Há casos de enfermeiras que têm que descansar no chão, pois não há camas para o descanso delas. Como a maioria dos funcionários não é de concursados, fica com medo de denunciar.
Essa conversa de grande satisfação por parte dos funcionários é tudo uma grande mentira. Peça ao Ministério do Trabalho para fazer visitas de surpresa e entrevistas com os funcionários.
Atenciosamente, Sinfronildo.
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Minha resposta: “Grato. Se alguém puder me escrever detalhando mais as condições de trabalho, agradeço”.
Os detalhes vieram

Prezado Rubens, conversei com pessoas que trabalham no hospital e repasso algumas informações (em anexo) para que o nobre jornalista divulgue. O objetivo disto é melhorar as condições de trabalho daquele hospital para que os profissionais de lá prestem um atendimento mais adequado. Att, Sinfronildo.
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No documento anexado, são relacionados os seguintes materiais e equipamentos em falta, acrescidos de comentários complementares (reproduzo do jeito que recebi):
– álcool 70% – é regrado o uso;
– PVPI degermante e tópico;
– sabão líquido;
– máscaras de Oxigênio, Máscara de Venturi, Máscara c/ Reservatório Oxigênio;
– BPAP e CPAP;
– aspirador (portátil), Oxímetro, Tensiômetro e monitores com defeito na emergência;
– fios de sutura de tipos diferentes;
– ECG portátil ( falta);
– laringoscópio e lâminas novas para entubar pacientes;
– seringa de 3 ml
Quanto à infraestrutura, o repouso dos enfermeiros é com camas insuficientes e não há separação por sexo, já que neste caso também só há um banheiro para enfermeiros e enfermeiras. Além disso, falta colchão e as macas (enferrujadas) são insuficientes para os pacientes.
Trauma mudo

Esses fatos e detalhes, da forma como me chegaram, foram comunicados ao Trauma através de duas mensagens que enviei na última quarta-feira (10) à Assessoria de Comunicação do hospital, com pedido urgência nas informações e esclarecimentos. Nada recebi até a noite de quinta-feira.
Resta esperar alguma resposta e, muito mais, providências. Por parte da direção do Hospital ou, como sugere o denunciante, por iniciativa do Ministério do Trabalho e seus fiscais ou do Ministério Público do Trabalho, por seus procuradores.