Retrocesso é não ver o avanço

Paulo Santos

Não houve nenhum retrocesso no posicionamento do eleitorado de Joao Pessoa na votação de domingo (7) para Prefeito. Quem acionou o número de qualquer candidato na engenhoca eletrônica da Justiça Eleitoral sabia o que estava fazendo, afirmou-se consciente da decisão tomada e o resultado final mostrou que a maioria se posicionou pelos que encarnavam o espírito de oposição ao Palácio da Redenção.

Quando quase 300 mil eleitores concentraram seus votos em apenas três candidatos é de se admitir que a população votante alinhou-se com propostas político-administrativas que lhe eram mais palatáveis. É possível até que as ofertas foram avaliadas sob critérios populares de confiabilidade.

O aspecto político mais importante que emanou das urnas foi o fato do eleitor surfar na mudança como os políticos costumam fazer. Os políticos podem mudar de lado e de opinião quando bem entendem. O eleitorado de João Pessoa optou por outro projeto que não aquele que sobreviver por oito anos.

Isso é retrocesso? De maneira alguma. É avanço. É lugar comum a queixa da falta de memória eleitoral do povo. Nem tanto, mestre. Os dois projetos que ficaram para o segundo turno podem não ser os melhores, mas no entendimento do eleitor eram os que mais lhe convinha no momento.
Quem tem seus projetos políticos desconsiderados pelo eleitor deveria, em primeiro lugar, ter humildade para reconhecer que esse eleitorado sai de qualquer lugar para votar de forma livre e soberana e se alguns métodos obscuros ainda tentam obstacular seu caminho é porque o aprimoramento da democracia é lento e, às vezes, imperceptível a olhos menos acostumados com as novas aspirações.

João Pessoa não foi uma “ilha” nestas circunstâncias. Pertinho daqui – no Conde e em Alhandra – o eleitorado também resolveu apostar em outros projetos, mesmo que tenham aparência de incógnita. Defenestrou as forças políticas que dominavam essas duas áreas há mais de oito anos e enveredou por mudanças.

Não se ouviu do atual prefeito Aluisio Régis nem do deputado estadual Branco Mendes, líderes respectivamente no Conde e em Alhandra, qualquer insinuação de que os eleitores provocaram qualquer “retrocesso”. Ganhar ou perder faz parte do jogo democrático e só daqui a quatro anos será possível avaliar se a vitória da futura prefeita do Conde ou do futuro prefeito de Alhandra foram decisões acertadas dos eleitores.

Quando um condomínio político considera que o eleitorado retrocedeu porque optou por outros projetos que não o do reclamante há características autoritárias que impregnam esse discurso, sobretudo quando a censura é feita sob o calor da emoção e quando as urnas ainda não foram definitivamente fechadas no segundo tempo.

Como se pode avaliar como retrocesso um processo que ainda está inconcluso? Esse julgamento ficaria melhor se feito por avaliadores das ditaduras cubana e venezuelana (essa, travestida de democracia) para quem todas os poderes emanam do Governo e em seu nome será exercido.

João Pessoa não retrocedeu. Ao contrário, avançou. Até mesmo os que perderam no primeiro turno contribuíram decisivamente para esse avanço. Melhor do que julgamentos precipitados ou leituras simplórias é ouvir a voz rouca das ruas. O eleitor está melhor informado e, por isso mesmo, pode estar se enganando menos com os falsos profetas.