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Covid-19 desacelera na maior parte do Brasil, segundo pesquisa

Na avaliação dos autores, o resultado é um forte indício de que a epidemia está em desaceleração na maior parte do país.

O percentual de brasileiros que apresentam anticorpos contra o novo coronavírus caiu de 3,8% em junho para 1,4% em agosto, segundo os dados mais recentes da pesquisa Epicovid-19 BR, divulgados nesta terça-feira (15/09). Na avaliação dos autores, o resultado é um forte indício de que a epidemia está em desaceleração na maior parte do país.

A quarta fase da coleta de dados do projeto incluiu 33.250 participantes de 133 cidades e foi conduzida entre os dias 27 e 30 de agosto por uma equipe coordenada por Pedro Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Nas três etapas anteriores – uma concluída em maio e outras duas no mês de junho, nas mesmas 133 cidades – a soroprevalência havia seguido tendência de elevação: 1,9%, 3,1% e 3,8%, respectivamente. A exceção foi a região Norte, onde em algumas localidades fortemente afetadas no início da pandemia os pesquisadores registraram queda na proporção de soropositivos entre a segunda e a terceira fases do estudo. Outras duas etapas de coleta devem ser realizadas nos próximos meses, com apoio da FAPESP.

De acordo com Hallal, quando a pesquisa começou, acreditava-se que os anticorpos contra o SARS-CoV-2 permaneciam um longo tempo no organismo, assim como ocorre no caso do coronavírus causador da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV), que é muito parecido. No entanto, evidências mais recentes indicam que o teste rápido – feito com uma gota de sangue extraída do dedo – capta com sensibilidade as infecções recentes, de até 45 dias, podendo também detectar infecções graves um pouco mais antigas.

“Inicialmente tratávamos a Epicovid como uma filmadora, que poderia mostrar a evolução da soroprevalência no país ao longo da epidemia, de forma cumulativa. Agora sabemos que os anticorpos têm duração limitada e, portanto, o que temos são várias fotografias de momentos diferentes. Embora não seja possível estimar o total de brasileiros que já teve contato com o vírus em algum momento da vida, conseguimos ver com precisão o percentual de pessoas que foram infectadas recentemente e esse número está claramente caindo”, explica o pesquisador.

Tendências

Hallal destaca que os resultados mais recentes revelam uma mudança na faixa etária dos infectados entre junho e agosto. Nos primeiros meses da pandemia, a soroprevalência foi maior entre pessoas de 20 a 50 anos, justamente aquelas em idade produtiva e que tiveram mais dificuldade para aderir ao isolamento social. Agora, o percentual diminuiu nesse grupo e aumentou entre crianças e idosos. Do ponto de vista socioeconômico, a tendência se manteve estável em todas as fases da pesquisa: pessoas cujas famílias se encontram entre as 20% mais pobres da população apresentam prevalência mais de duas vezes superior à observada entre os 20% mais ricos.

Houve uma queda importante da prevalência entre indígenas nos últimos meses – reflexo da desaceleração da epidemia na região Norte. Por outro lado, pretos e pardos continuam a apresentar maior chance de infecção em comparação aos brancos.

“Nesta quarta fase ficou bem clara a interiorização da pandemia. Hoje o vírus está muito mais forte nos municípios do interior do que nas capitais – o que é muito diferente do observado nas fases anteriores”, comenta Hallal.

As cidades com maior soroprevalência na última medição foram Juazeiro do Norte (8%) e Sobral (7,2%) – ambas no Ceará. Na sequência estão as paraenses Santarém (6,4%) e Altamira (5,2%). No Estado de São Paulo, a primeira colocada é Ribeirão Preto (2,8%), seguida por Araçatuba (2%), Campinas (0,8%) e capital (0,8%).

“Esse tipo de resultado é importante para guiar as políticas de saúde, pois revela a realidade sanitária de cada região”, diz Hallal. “Lamentamos que tenha havido um hiato de dois meses na coleta de dados causado pela quebra no financiamento do Ministério da Saúde. Se tivéssemos dados coletados em julho e no início de agosto, provavelmente teríamos conseguido detectar tendências que infelizmente se perderam. Nossa história vai contar o começo e o fim da epidemia, mas uma parte do meio se perdeu. A FAPESP e o Todos Pela Saúde salvaram o Epicovid, estudo que é patrimônio da sociedade brasileira”, afirma Hallal.

Fonte: UOL
Créditos: UOL