O transporte de carga tem sido a menina dos olhos do setor aéreo durante o período de crise provocado pela pandemia do coronavírus. O segmento hoje está em um momento favorável e deve iniciar uma retomada acelerada nos próximos meses. O maior desafio hoje, entretanto, será a logística para espalhar a tão esperada vacina contra o vírus no mundo.
Segundo cálculos da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), levar uma dose única da vacina a 7,8 bilhões de pessoas ocuparia por completo 8 mil cargueiros Boeing 747, uma das maiores aeronaves do mundo.
“Isso se tivermos apenas uma dose”, destacou Glyn Hughes, Head Global de Carga da associação.
A Iata já está se movimentando e mantém contato com farmacêuticas, organismos multilaterais e aeroportos para organizar a missão. Hughes ponderou que a capacidade para transportar as vacinas será um problema.
O setor sofre hoje com a falta de oferta para carga por causa da queda dramática no transporte de passageiros, que tem papel central ao levar carga na barriga das aeronaves.
Na América Latina o desafio é ainda maior, com empresas abandonando de vez a região e grupos importantes em dificuldade financeira. Diante do cenário, a capacidade global do setor, medida em toneladas de carga disponível por quilômetro (ACTKs), recuou 31,2% em julho na comparação com igual mês do ano anterior.
Mesmo com o alerta, as sinalizações são positivas. “O setor de carga tende a mostrar um crescimento rápido depois de uma recessão. Em um período de recuperação, que é o que estamos entrando agora, tipicamente as empresas usam o transporte aéreo para receber materiais mais rápido e atender o crescimento na demanda”, explicou Brian Pearce, economista-chefe da Iata.
Os dois participaram de teleconferência com jornalistas, na manhã desta quarta-feira, 9. O economista apontou gráficos na apresentação que mostram a retomada do transporte de carga de forma acelerada após períodos de crise em 2008 e 2000.
A demanda global por transporte aéreo de carga, medida em toneladas de carga por quilômetro (CTKs), apresentou queda de 13,5% em julho na comparação com igual mês de 2019. O número, divulgado na semana passada, voltou à apresentação da Iata para ser comparado com os dados do segmento de passageiros, cuja demanda (medida em passageiros quilômetros pagos, RPK) apresentou queda de 79,8% em igual comparação.
Outra sinalização favorável, na visão de Pearce, é a retomada da confiança empresarial, que voltou a patamares pré-crise nos países da Europa, nos Estados Unidos e na China. “Com isso, há uma tendência de uma recuperação em ‘v’ no crescimento econômico”, disse.
Antes da crise, o transporte de carga estava perdendo espaço nas receitas das empresas aéreas. Desde 2000, a fatia do segmento na receita operacional tem ficado abaixo de 20% e bateu 15% em 2019. Com a crise, esse indicador hoje foi para 25%. “A carga está sendo uma fonte importante de receita em um momento que os recursos praticamente desapareceram. Acreditamos que nos próximos anos o transporte de carga vai ser cada vez mais significativo”, disse.
Ele destacou ainda o crescimento do e-commerce com a pandemia. “A pandemia acelerou um processo de mudança no consumo das pessoas. O transporte de carga tem sido muito importante. Vemos muita demanda doméstica de transporte de carga por causa do crescimento do e-commerce”, disse.
Fonte: Notícias ao Minuto
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