Ao chegar ao Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), da Universidade de Pernambuco, na tarde deste domingo (16), o médico, gestor da unidade e professor universitário, Olimpio Barbosa de Morais Filho, teve uma surpresa: mais de 200 pessoas protestavam na frente da unidade por causa do aborto da menina de 10 anos.
Menina de 10 anos engravida por estupro e Justiça avalia aborto
Ele revelou que já durante a tarde foi dado início ao processo de aborto, com aplicação de drogas. Segundo o médico, manter a gravidez na sua idade teria muito mais riscos de complicações e de morte que em um adulto.
A menina já estava com mais de 22 semanas de gravidez, ou seja, cerca de 5 meses.
Como foi o procedimento?
Ela passa bem. Assim que desembarcou no aeroporto, já veio para o Cisam, onde foi encaminhada para a sala. Lá, por volta das 17h, foi aplicada a droga que induz o óbito fetal para não haver prolongamento do sofrimento. É uma injeção. Depois é aplicada a medicação de indução para a expulsão do feto, que é comprimido. O passo seguinte é a curetagem com anestesia.
Quanto tempo dura todo o processo?
A expulsão é semelhante a um trabalho de parto, então varia de cada pessoa, pode durar entre quatro e 10 horas. Acreditamos que amanhã a gente tenha essa resposta. Depois é feita a curetagem.
Ela deve ter alta na terça-feira, e como ela vai viajar de volta, talvez fique mais um pouquinho pois é uma viagem longa, sem voo direto. É possível que volte ao Espírito Santo na quarta-feira.
O abortamento é sempre um processo que tem dores. São cólicas, mas a gente aplica uma medicação para aliviar. É semelhante a um trabalho de parto mesmo, mas mais rápido.
E o procedimento traz riscos para a criança?
Todo procedimento tem um risco, mas garanto a você que o risco é menor que um parto. No caso dela, se continuasse a gravidez, por causa da idade, teria riscos muito maiores de complicações e morte que uma mulher adulta.
Além disso, ela não queria de jeito nenhum a gravidez. Ela verbalizava que não aceitava de jeito nenhum. Quando acontece isso, obrigar uma criança é uma tortura muito grande, destrói a vida da pessoa.
O caso gerou repercussão grande. Uma criança realizar um aborto nessas circunstâncias é incomum?
Não é comum gravidez com 10 anos. É mais comum a gente realizar procedimentos de aborto após estupro com gravidez em meninas de 13, 14, 15 ou 16 anos. Não é comum, pois geralmente com 9 ou 10 anos a criança não ovula. Mas acontece. Já tivemos caso de uma menina de 8 anos, em 2008, de Alagoinha (Pernambuco) grávida de gêmeos. A repercussão foi ainda maior.
O maior problema que vejo são essas forças religiosas e políticas contrárias a salvar a vida dessa menina, essas pessoas divulgaram o nome dela. Eles perseguem. Temos que ter cuidado em proteger a criança, com o nome dela, para que isso não destrua a chance dela reconstruir a vida depois disso tudo. É muito ódio.
Os protestos de hoje te surpreenderam?
Sim. Eu pensei que ninguém sabia do procedimento, já que é sigiloso, mas quando cheguei lá (no Cisam) tinha mais de 200 pessoas tentando entrar no Centro. Eles não deixavam nem as gestantes que chegavam entrar no local, dizendo que ali era a casa de Satanás. Eram mulheres parindo, na ambulância, tentando entrar, e eles gritando. Uma coisa da idade média. Políticos, religiosos…
O senhor trabalha com isso há quanto tempo?
Há mais de 30 anos, e com esse tipo de aborto desde 1996. Somos o primeiro serviço fora do eixo Rio-São Paulo.
Fonte: Tribuna Online
Créditos: Tribuna Online