O rei ficou raquítico. Dois anos depois de coroado

Gilvan Freire

Ninguém poderia imaginar, quase dois anos atrás, que o surpreendente vencedor das eleições para governador da Paraíba em 2010 tivesse uma trajetória política tão trágica. Quando Ricardo Coutinho arrebatou o poder de Zé Maranhão, ganhando dele uma eleição que esteve perdida durante 90% do tempo da campanha, ficou a impressão no povo de que o vitorioso iria inaugurar uma nova classe política no Estado, enquanto os lideres perdedores iriam assumir uma aposentadoria compulsória. Seria bem feito: quem mandou os conselheiros de Maranhão colocarem na disputa Cássio e RC de uma só vez, quando Cássio não era o concorrente direto de Zé?

A derrota de Zé não foi, a rigor, o fracasso do candidato, mas, sim, o fiasco de uma estratégia errada, capaz de derrubar um candidato sólido e favorito que ficou velho diante de dois supostos ‘novos’. Poderia parecer, no confronto de duas gerações em disputa, que quem venceu foi ‘o novo’ um estico moderno, um apelo diferente, cheio de propostas de mudanças, muito recorrente nas eleições, que já produziu mais desastres no Brasil que todos os velhos juntos. Lembram-se do maratonista Collor, aquele caçador de marajás que prometia passar a limpo o país mas passou foi a mão no dinheiro público e na poupança do povo?

Os episódios se repetem nessa Paraíba pequenina do ‘Deus dará’, como tem ocorrido aqui e acolá pelo Brasil afora. A corrupção aqui chega agora a níveis alarmantes, nunca vistos antes, pelo menos nos últimos 20 anos. É o ‘novo’ com suas assombrações cíclicas e seus métodos infalíveis de fazer tudo aquilo que antes combatia nos outros.

Mas quem imaginava que Ricardo Coutinho, com toda a sua extraordinária capacidade de saquear os servidores públicos, a pretexto de sanear financeiramente o Tesouro, fosse capaz de dar um derrame tão espetaculoso de dinheiro público para influenciar nas eleições, na busca de salvar a sua própria pele, ameaçada de escalpe pela população da capital, sua antiga fortaleza? Como um homem tão aparentemente austero e frio, fica, em apenas dois meses, tão bonzinho para lastrear a campanha com favores de ocasião de um governo que não acha freios morais e éticos e nem se lixa para as autoridades de uma Justiça Eleitoral dormente que deixa a máquina administrativa administrar as eleições?

Apesar de tudo, não é esse aspecto ‘collorido’ do ‘novo’ que devemos observar atentamente. É preciso ver também que esses disparates morais do ‘novo’, estão levando os reformistas de discurso e farsantes de palanques ao canto da parede, embora merecessem mesmo o paredão. RC, com toda a empáfia de líder vanguardista e pretensioso rei pop da contracultura política, já não pontuará 20% das intenções de votos em seu território de domínio. Talvez porque, como ele próprio lembra contra Luciano Cartaxo (aliás, com certa e rara razão) com mais de 20 anos na política ninguém é mais ‘novo’ coisa nenhuma, mesmo que a vaidade e a pretenciosidade de cada um achem que é. Ninguém ingressa na juventude depois dos 50 anos. Nem pouco antes, a menos que a vida seja calculada do fim para o começo.

QUAIS SÃO OS ERROS DESTA CAMPANHA

Nos primeiros momentos dessas eleições em João Pessoa, parecia que Cícero e Maranhão representavam a totalidade dos eleitores antiricadistas, uma legião de anônimos que queria botar o palácio abaixo por partes, sendo a primeira picaretada no anexo, onde estavam alojados a prefeitura de Jampa e seu chefe, um preposto do governador. Foi então que o anexo se rebelou e escapou da demolição e, além do mais, voltou-se contra o próprio palácio, um lugar que ficou estreito para alojar tanta gente ciosa de poder, fama, dinheiro, tramas, aventuras, extravagâncias e desatinos.

Não muito sem sentido, muita gente entendeu que a cizânia entre o palácio e seu anexo fora uma estratégia para manter o domínio girassol, um agrupamento neonazista que fundou na Paraíba uma única raça pura: os que giram em torno de si mesmo – os gira sozinhos, de outra forma cognominadas ‘birutas de aeroportos’, que se movem também de acordo com a batida dos ventos.

A briga interna dos ‘gira-sozinhos’ mudou o eixo da disputa, porque Agra juntou-se a Cartaxo para combater RC. O anexo bombardeou o palácio, embora os dois fossem o mesmo lugar, antes ocupado pelo governador e seu preposto. Dar para entender o X da questão?

A verdade é que Agra e Cartaxo passaram a ocupar o lugar de Cícero e Zé no combate a RC, e a partir daí muitos eleitores ficaram também como ‘birutas de aeroporto’, procurando saber, atônitos, para onde os ventos deveriam soprar. E tudo voltou a ficar como em certas ocasiões anteriores, onde o ‘novo’ é que parecia girar o próprio vento, de tanta petulância que havia.

Mas, ao que se demonstra mais ou menos claro, nessa reta final da campanha, Maranhão e Cícero acordaram e reagiram. E já não está fora de propósito que tenham assumido de volta a primazia de serem os únicos lideres verdadeiramente anti-Ricardo, o rei que caminha para perder a coroa. E para perder também o cetro (que era o anexo de seu palácio). Ou seja: para o povo, atordoado com os oposicionismos de conveniência, nada está perdido. Porque nada está terminado.