Eu estava entre os milhões de brasileiros que assistiam no Jornal Nacional do dia 21 de agosto de 1973, matéria que noticiava o retorno de Geraldo Vandré do exílio. A TV Globo nos informava que ele estaria desembarcando naquela noite no aeroporto de Brasília, vindo do Chile. O espanto maior foi vê-lo em entrevista se dizer arrependido e que teria sido “usado”, decidindo a partir de então que só iria fazer canções de amor e de paz. Nem isso fez mais. Aquele não era o Geraldo Vandré que aplaudíamos e admirávamos, mas sim o cidadão Geraldo Pedrosa, aparentemente transtornado, amedrontado, monitorado, desconectado com o mundo.
Algum tempo depois se descobriu que Vandré teria chegado ao Brasil no dia 14 de julho. Portanto, mais de um mês antes da reportagem da Globo. Ao voltar do Chile teria ficado no Rio de Janeiro, até a data em que se apresentou publicamente através da televisão, na farsa da chegada em Brasília. Reside aí um mistério até hoje não desvendado.
O que teria feito ele nesses dias em que esteve no Rio de Janeiro? Quem articulou seu retorno e o convenceu a simular sua volta naquela noite de agosto em Brasília? Insinuam alguns que sua paixão pela Aeronáutica era uma espécie de Sindrome de Estocolmo, pois teria sido trazido do Chile por um oficial da força aérea, com quem teria firmado um vínculo de confiança a ponto de ceder às exigências que lhe eram impostas para continuar no país. São muitas as versões, mas nada que possa se colocar veracidade. Ele nunca contou o que aconteceu nesse espaço de tempo.
Presume-se que a sua volta ao Brasil foi articulada pelo próprio governo, atendendo pedido dos familiares, preocupados com seu estado de saúde no Chile. Durante esse período no Rio teria negociado a sua permanência, condicionada à entrevista que concederia à TV Globo, reafirmando de que nunca teria sido preso ou sofrera qualquer tipo de violência física pela ditadura e que jamais se vinculou a qualquer partido político. Há quem diga que sua entrevista foi resultado de uma lavagem cerebral a que teria sido submetido.
Interessante é que essa entrevista que oficializava seu retorno ao Brasil não é encontrada em nenhum lugar, desapareceu. Nem a Globo contém em seus arquivos essa reportagem. Muito estranho.
O que se constata é que Geraldo Vandré foi o único dos artistas exilados que não retornou aos palcos. Ele próprio disse na ocasião que Geraldo Vandré havia morrido em 1968. O que não é verdade. No exílio ele compôs e fez shows em países sul americanos e europeus por onde andou. Um ano antes de regressar ao Brasil teve uma música classificada em primeiro lugar no Festival do Peru, cujo título era “Pátria amada idolatrada, salve, salve”.
Tive a oportunidade de estar lado a lado com ele numa viagem de avião, voltando de São Paulo para João Pessoa, e pude perceber pessoalmente que se tornara um homem perturbado mentalmente, procurando a todo custo se desvencilhar da figura mítica do consagrado artista Geraldo Vandré
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão