No começo da pandemia, a UFPB realizou um questionário online para saber se todos os estudantes tinham condições de participar de atividades remotas. Segundo o levantamento, 76% das pessoas disseram que participariam das atividades oferecidas de forma remota. Mas a instituição não levou em consideração que alguns estudantes que não tinham acesso à internet, não conseguiram nem responder o questionário que foi disponibilizado no Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA).
Através da decisão tomada pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) no dia 18 de maio, ficou decidido que seriam ofertados componentes curriculares e extracurriculares em atividades de ensino e de aprendizagem online. Esse período suplementar ainda está vigente, tendo seu início em oito de junho e o fim em 14 de agosto. Os estudantes não eram obrigados a participar, inclusive os que recebem algum tipo de auxílio da universidade.
Para Vinícius Teixeira, estudante de Agroecologia da UFPB, o período suplementar foi danoso para quem cursou e também para quem não participou. “Quem está cursando, mesmo que opcionalmente, componentes curriculares obrigatórios, está jogando fora uma parcela do aprendizado que aguardava obter presencialmente, com debates, com análises, acesso a bibliotecas, laboratórios, pesquisas em campo, reflexões… Quem não está cursando nenhuma disciplina talvez tenha razão em estar preocupado com as possíveis competições futuras dentro do ambiente acadêmico e profissional”, opina.
A estudante de jornalismo da UFPB, Michelly Santos, pontua as dificuldades que está enfrentando com as aulas online. “Eu não consigo acompanhar as disciplinas. Muitas não são no período da manhã, que é o horário do meu curso. E tem também as questões tecnológicas: eu não tenho acesso à internet em casa. Pego o wifi do meu primo.”, ressalta.
No final do mês de julho, os estudantes receberam um email da universidade para avaliar o período suplementar, com prazo de resposta de apenas 24 horas. Com o prazo curto, muitos estudantes não responderam e outros não tiveram acesso. Mesmo assim, a gestão da UFPB usou esses dados como forma de avaliação e sugeriu um período remoto regular. No dia 27 de julho, o Consepe decidiu que essa proposta precisaria ser estudada com mais calma e adiou a votação de decisão sobre o período remoto regular para esta segunda-feira, 3 de agosto.
Os estudantes foram pegos de surpresa com um suposto período regular remoto e muitos deles serão prejudicados. “O período regular remoto é um problema, visto que algumas pessoas vão ter acesso porque tem condições de acompanhar as aulas, têm computador, internet e outros materiais necessários. Mas outras não vão ter acesso aos equipamentos necessários, […] muitos utilizavam os computadores dos laboratórios para fazer seus trabalhos”, afirma Paulliano Rocha, estudante de Ciências Sociais da UFPB.
O Comitê de Ação e Solidariedade da UFPB (CASU) lançou um questionário para a comunidade estudantil da UFPB a fim de recolher informações sobre as vivências atuais do corpo estudantil nessas circunstâncias remotas. Esse questionário vem sendo respondido gradativamente há mais de 25 dias. Assim, foram obtidos dados relevantes, como o fato de 61,1 % das respostas obtidas no questionário afirmarem ser contrárias ao semestre regular remoto. Esse questionário tinha, até então, um universo de 1479 respostas, mas já apresentava que 73,7 % de quem alegava situação de vulnerabilidade econômico-social.
Se o período regular remoto for aprovado, os estudantes que são atendidos com algum auxílio estudantil serão os maiores prejudicados. De acordo com as normas que regem a assistência estudantil, os discentes precisam seguir algumas regras e duas delas são problemáticas levando em consideração as atividades remotas. A primeira: “Estar regularmente matriculado, na carga horária mínima exigida pelo Projeto Pedagógico do Curso (PPC) no semestre letivo em vigência”. E a segunda: “Aprovação em no mínimo de 60% das disciplinas matriculadas no semestre anterior ao vigente.”.
Com várias adversidades, esses estudantes são obrigados a cumprir esses requisitos ou seus auxílios serão cortados.“Pra gente que recebe o auxílio estudantil, não participar desse período remoto regular é a chance da gente perder o benefício. Então, eu não posso escolher trancar um período porque vou perder o auxílio”, ressalta Michelly Santos.
Segundo a pró-reitora Ariane Sá, a UFPB precisa adiantar o seu calendário e a forma encontrada seria através do período remoto regular. “A tendência é que a Universidade Federal da Paraíba faça um novo calendário remoto e que dessa forma priorize cada vez mais a oferta de componentes curriculares.”
Perguntamos sobre como o período remoto iria funcionar, mas a pró-reitora preferiu não responder. “Tudo que eu responder será pura ilação.”, afirma.
Fonte: Parlamento PB
Créditos: Iasmin Soares