Paulo Pontes voltou a Paraíba em 1967, em razão de sua saída, juntamente com Vianinha e Armando Costa, do Grupo Opinião do Rio de Janeiro, onde durante três anos ganhou experiência, não só pela convivência com figuras luminares da dramaturgia brasileira como também pela imperiosa necessidade de adequar a expressão artística dos palcos aos novos tempos impostos pela ditadura. O teatro exigiu dos seus aficionados maior criatividade, transformando-o de forma inteligente num canal de manifestação do inconformismo predominante, sem que os “censores” pudessem impedir sua comunicação com o público na transmissão de sentimentos e valores necessários à conscientização política. Participou das montagens, roteiros, direção e divulgação de consagradas peças teatrais encenadas naquela época no sul do país.
Segundo o teatrólogo Alarico Correia a peça “Parai-bê-a-bá” nasceu da preocupação com o desinteresse do público paraibano pela arte teatral. Pensou, então, em produzir um espetáculo sobre a Paraíba. O seu texto apresentava dados estatísticos, econômicos e informações históricas, utilizando poemas, canções e trechos de romances célebres de autores paraibanos. O objetivo era colocar o homem paraibano em cena, explorando temáticas como a miséria, a seca, a fome, a migração, caracterizando-o como alguém que resiste diante das agruras experimentadas. Constituía-se, portanto, numa denúncia social.
Idealizou um espetáculo diferente, inovador, mas, sobretudo, algo que retratasse a nossa realidade, costumes, tradições, fatos e personalidades que construíam a nossa cultura. Um novo processo de criação artística. Convocou para ajudá-lo na roteirização do texto o Padre Chico Pereira, Altimar Pimentel, Jomar Souto e João Manoel de Carvalho. Nascida a ideia e tomada a decisão de tocar o projeto, caíram em campo. Colheram depoimentos da intelectualidade paraibana, basearam-se em obras literárias de escritores paraibanos, em especial “A Bagaceira” de José Américo de Almeida, e selecionaram o que tinha de melhor em nosso estado na imaginação e interpretação do teatro e da música.
Coordenado por ele próprio, Paulo Pontes contou na direção do espetáculo com as participações de Rubens Teixeira e Elpídio Navarro. A direção musical ficou sob a responsabilidade de Arlindo Teixeira e Pedro Santos. No elenco destacavam-se Sérgio Tavares, Ednaldo do Egypto, Jomar Souto, Roosevelt Sampaio, Walderedo Paiva e Márcia Guedes Pereira que vinha a ser a melhor intérprete da música popular brasileira daquele tempo na Paraíba. O Coral da Universidade Federal da Paraíba teve participação especial, cedido pelo escritor Juarez Batista, diretor do departamento cultural daquela instituição.
A montagem da peça foi concluída em janeiro de 1968 e sua estreia aconteceu no Rio de Janeiro no início de fevereiro durante a realização do V Festival Nacional de Teatro Amador, o que provocou algumas insatisfações aqui, porque não compreendiam como um espetáculo com temática essencialmente paraibana tivesse sua primeira apresentação fora do nosso território. Não fugindo à regra enfrentou dificuldades para conseguir sua liberação pela Censura Federal. O sucesso foi acima do esperado. O público reagiu entusiasticamente e a peça alcançou o terceiro lugar no festival. Na Paraíba a apresentação aconteceu a partir do dia 16 de fevereiro, no Teatro Santa Roza, permanecendo em cartaz por trinta dias, sendo recorde de bilheteria, com filas enormes para adquirir ingressos.
Paraibê-a-bá foi um marco na história do teatro nordestino e pela sua contribuição ao novo pensar cultural de nossa terra, o ano de 1968 teria que ser a data adequada para o surgimento de um espetáculo tão cheio de novidades e com forte mensagem crítica à realidade política e social da época.
Rui Leitão
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba