A chegada de um comboio com assessores e seguranças do vereador Carlos Bolsonaro surpreendeu moradores de um sofisticado prédio do Noroeste, área nobre de Brasília, na hora do almoço do dia 10 de junho. De óculos escuros e cercado de guarda-costas, Carluxo desceu do carro às 12h28 para conhecer um apartamento à venda no local. A visita ao imóvel de 37 metros quadrados demorou uma hora, como Crusoé revelou na ocasião. O filho 02 do presidente, que pretende se mudar para Brasília, gostou do que viu. Menos de um mês depois, o apartamento tem uma nova dona: Rogéria Nantes Braga Bolsonaro, mãe dele, de Eduardo e de Flávio, os três filhos mais velhos de Jair Bolsonaro.
De acordo com a escritura de compra e venda, Rogéria Nantes Bolsonaro pagou 470 mil reais à vista. A escritura registra que o acerto se deu por meio de uma transferência eletrônica. Assim como Jair Bolsonaro, o vendedor do apartamento é um oficial da reserva do Exército. Carlos Bolsonaro ainda não anunciou se concorrerá à reeleição na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro nas eleições municipais deste ano. Se optar por ficar sem mandato agora, vislumbrando voos mais altos em 2022, ele terá pouso garantido na capital, onde já moram seu pai e irmãos.
O novo refúgio brasiliense de Carluxo fica em um prédio de seis andares, a exemplo de todos os edifícios da área tombada da capital. No dia da visita, no mês passado, seguranças do vereador observaram e fotografaram o prédio e as ruas do entorno, enquanto o filho de Bolsonaro visitava o apartamento. O edifício tem vigilância bem acima da média para os condomínios residenciais de Brasília. Assim como todo o bairro, criado na última década, a construção é moderna, a entrada é controlada por sistemas eletrônicos e há câmeras para todos os lados.
O acesso ao local é, digamos, extravagante: moradores e visitantes andam sobre um hall com piso de vidro, que deixa aparente um jardim de inverno subterrâneo. O condomínio tem duas piscinas, uma semiolímpica e uma aquecida, e academia. A sauna tem mergulho para uma das piscinas e a área comum conta ainda com duas churrasqueiras cobertas, espaço gourmet para 25 pessoas, salão de festa para 50 convidados, dois home offices, lavanderia e sala de jogos.
A vista das coberturas coletivas é outro diferencial. Do alto do prédio, é possível contemplar o Parque Nacional de Brasília, a maior área de conservação da capital. Moradores do prédio, que falaram sob reserva a Crusoé, temem que a rotina do condomínio seja impactada pela provável mudança de Carluxo – no mínimo, eles terão de conviver com os cuidados especiais que a segurança presidencial dedica aos locais frequentados pelos integrantes da primeira-família da República.
O apartamento de um quarto foi reformado há pouco mais de um ano. O imóvel ganhou revestimentos luxuosos, uma marcenaria bem planejada e móveis modernos. Os eletrodomésticos embutidos foram vendidos juntamente com o imóvel. À diferença do procedimento que é praxe nas transações do gênero, não houve barganha: a mãe de Carluxo pagou pelo apartamento exatamente o mesmo valor pelo qual ele foi anunciado. Na escritura de compra e venda registrada em um cartório de Brasília, Rogéria Bolsonaro consta como moradora do bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, “de passagem por esta capital”. Ela compareceu ao local para lavrar o documento no último dia 7. Além dos 470 mil reais transferidos ao vendedor, a mãe de Carlos Bolsonaro pagou ainda 14,1 mil reais ao governo do Distrito Federal, a título de imposto de transmissão de bens móveis.
Ex-vereadora da cidade do Rio de Janeiro, Rogéria Bolsonaro é hoje comissionada da Assembleia Legislativa do estado. Está lotada no gabinete do deputado estadual Anderson Moraes, do PSL, um aliado da família. Tem salário de 5,5 mil reais. Economizando metade desse valor mensalmente, ela teria que poupar durante quase 15 anos para chegar ao montante pago à vista pela compra do apartamento.
Rogéria teve cadeira na Câmara carioca por dois mandatos, entre 1992 e 2000. O fim de sua carreira política envolveu uma disputa familiar com ares novelescos. Recém-separada de Jair, ela foi boicotada pelo ex-marido, que forçou a candidatura de Carlos, à época com apenas 17 anos, ao cargo de vereador. Os dois disputaram nas urnas. Carluxo teve o apoio do pai, então um deputado federal do baixo clero, e se elegeu. A mãe amargou uma suplência e não disputou mais cargos eletivos.
À época, Jair Bolsonaro comemorou a derrota da ex-mulher, zombou de Rogéria e celebrou o comportamento do filho. “Filho de troglodita, troglodita é. Para mim, ela já está morta há muito tempo”, declarou em 2000, segundo o jornal O Estado de São Paulo. Pessoas próximas à família dizem que o episódio traumatizou Carluxo, que, desde então, tem rompantes de amor e ódio na relação com o pai – muitos deles expostos ao público nas redes sociais.
Carlos Bolsonaro conclui neste ano seu quinto mandato como vereador. Apesar de representar os cariocas na Câmara da capital fluminense, o filho 02 do presidente é visto com frequência em Brasília desde que Jair Bolsonaro chegou ao Planalto. Ele comanda as estratégias digitais do pai, atribuição que exibe com orgulho desde antes da campanha, e é responsável pelo tom belicoso das postagens, com ataques constantes a adversários. Foi Carlos quem idealizou a estrutura do chamado gabinete do ódio, grupo de assessores especiais da Presidência que tem como foco prioritário destruir reputações de inimigos – os reais e os imaginários.
Na semana passada, em uma postagem nas redes sociais, o filho 02 do presidente fez mistério sobre seu futuro político. “Aos poucos vou me retirando do que sempre explicitamente defendi. Creio que possa ter chegado o momento de um novo movimento pessoal”, afirmou. “Ninguém é insubstituível e jamais seria pedante de me colocar nesse patamar. Apenas uma escolha pessoal pois todos somos seres humanos. Seguimos! E surpresas virão!”, prosseguiu. A postagem foi feita um dia depois da compra do novo apartamento da família em Brasília.
Fonte: Ricardo Antunes
Créditos: Polêmica Paraíba