Embora admitindo que estamos vivendo um imprudente clima de beligerância, enxergo, no entanto, no atual momento histórico, um interessante engajamento político das pessoas. Mesmo reconhecendo que as paixões muitas vezes cegam consciências e, por isso mesmo, muitos perdem sua liberdade de pensar por si próprio e se dispõem a seguir orientações ditadas por lideranças nefastas ou uma mídia dedicada a “fazer a cabeça” dos incautos, não podemos deixar de considerar que o simples fato de despertar interesses por questões políticas e sociais já se torna um avanço.
O perigo é que o radicalismo, de repente, ao invés de educar politicamente pode se tornar uma estratégia de aliciamento ideológico contrário ao que na verdade estimula a participação do indivíduo no cenário político. Sem perceber o indivíduo se transforma num “inocente útil”, na crença que está defendendo ideias que contribuirão para o fortalecimento e reafirmação da cultura democrática. No confronto raivoso e apaixonado, se nega a pensar com tranquilidade e equilíbrio, se recusando a assumir atitudes dentro da racionalidade.
Mas, apesar de todos esses riscos, é um despertar de consciência política. O que os mais experientes nos recomendam fazer é não jogar lenha nas fogueiras das refregas do debate político. Tentar fazer desse espírito competitivo de opiniões e ideias, um instrumento de conscientização política. A primeira regra para que isso seja um componente eficaz na promoção das transformações sociais que se fazem necessárias, é respeitar as divergências, o contraditório, sem ser dominado pela emoção das paixões.
O engajamento político não pode ser uma atitude de conveniência circunstancial ou de interesse pessoal egoísta. Tornar-se um ativista político é se envolver de corpo e alma na defesa dos seus ideais, de forma racional, amparado na força de suas convicções, mas na certeza de que do lado adversário tem gente que também pensa, raciocina, estuda, planeja, argumenta. Quem se nega a ouvir o que se oferece como pensamento dissonante do seu, comporta-se como um alienado, um “maria-vai-com-as-outras”, agindo por impulsos ou por influências alheias.
Torço muito para que esse instante da nossa história política seja melhor aproveitada em favor de um novo tempo. Tenho esperança que venceremos essa fase dos conflitos desrespeitosos e inconsequentes, para assumirmos a verdadeira ação cidadã de livremente expressarmos nossas opiniões sem medo de agressões ou xingamentos. Será que posso alimentar esse sonho?
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba