No Brasil qualquer pessoa que não se alinhe à ideologia da direita é chamada de comunista. Nos anos mais recentes, com a polarização político-ideológica que a cada dia se acentua, comunista passou a ser quem não se declarar bolsonarista. Todo aquele que se colocar como oposição ao governo é assim classificado. Ironicamente até famosos políticos conservadores e reacionários se tornaram “comunistas” porque romperam com o presidente da república de plantão. Tornou-se uma manifestação paranoica.
Em nosso país as pautas sociais progressistas são associadas a ameaças vermelhas, em razão das circunstâncias políticas. Chegam inclusive a defender que a democracia só se exerce num regime capitalista. Porém, vêm se destacando no cenário político brasileiro os anticomunistas de origem fascista. No imaginário deles os comunistas são seres perigosos, atrozes, sem alma e sem coração. Ainda que na prática, esse discurso da extrema direita brasileira seja contrariado pela incitação à violência e ao ódio. Enxergam comunistas em todos os lugares, escolas, igrejas, imprensa, movimentos culturais. E estimulam reações iradas contra quem estiver no campo oposto ao seu pensamento político.
O exagero e a irracionalidade demonstram que não sabem sequer o que seja comunismo. Quem for de esquerda é comunista na visão desses fanáticos da ultradireita. Na retórica do anticomunismo levantam bandeiras que pedem a volta da ditadura militar. Tornou-se comum ver nas mobilizações populares bolsonaristas, faixas como: “a nossa bandeira jamais será vermelha” ou “intervenção militar já”. Tentam convencer a opinião pública de que há uma estratégia das esquerdas para destruir as famílias, a moral e os bons costumes. É que podemos chamar de “falso moralismo”. Elegeram Lula e o PT como os principais inimigos.
No período da ditadura militar, com a justificativa de que era necessário conter o avanço comunista no país, prenderam, torturaram e assassinaram aqueles que se apresentavam como opositores ao regime. Difundiram o terror e o medo. A ideia era internalizar na consciência coletiva que os adversários da ditadura eram comunistas e se fazia necessário eliminá-los do campo político. Foi montada uma estrutura fortemente repressiva. Buscam repetir a História.
Notícias e postagens falsas, as fake news, alimentam essa ultra polarização. Comunista virou uma espécie de palavrão, xingamento. Forçam a associação das ideias de esquerda a esse fantasma, o comunismo, tão distante da nossa realidade. O social-democrata ganhou o epíteto de comunista. É estratégico. Objetiva ganhar a adesão dos que nunca tiveram a curiosidade de estudar realmente o que seja comunismo. Se aproveitam da ignorância política de boa parte da população, para influencia-la na visão equivocada do comportamento político dos que se manifestam em posturas adversas à direita.
A elite privilegiada pelo Estado assume o comando dessa trincheira anticomunista ilógica, insensível à desigualdade social que se estabelece em nossa nação. O mais grave é que conta com o apoio de parte da classe média que se acha rica. Utiliza a proclamada “ameaça comunista” como pretexto para justificar rupturas democráticas. O paranoico discurso anticomunista ressurge das cinzas, embora que, basta ter um mínimo de lucidez política para saber que jamais houve, ou haverá, a possibilidade concreta de uma revolução comunista no Brasil. Esse delírio, até certo ponto, risível, não merece ser considerado como algo sensato. O mais interessante é que eles chamam de comunistas exatamente os que estão defendendo a democracia e a luta contra as injustiças sociais. Quando vêm, na intenção de me ofenderem, me chamando de “comunista”, o que nunca fui, nem serei, dou risadas, porque substituo a agressão verbal pelo significado de “democrata”. Se ser “comunista” é simplesmente ficar contra esse governo, podem continuar assim me qualificando, esse insulto não me machuca. Pelo contrário, me dá um alívio de consciência política.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão