Em Campina Grande vemos uma situação um tanto quanto inusitada neste período que antecipa a formalização das candidaturas que participarão do pleito eleitoral e disputarão o direito a gerirem a Rainha da Borborema pelos próximos quatro anos. Pelo lado da oposição, há um verdadeiro jogo voraz, em que os pré-candidatos tal quais pequenos filhotes de tubarão buscam devorarem uns aos outros para que assim sejam os únicos a saírem do ventre do ódio a Romero Rodrigues para conquistarem os mares da população, que poderá lhes garantir uma eleição. A oposição de Campina Grande, que já fora derrotada pelo próprio Romero Rodrigues no primeiro turno em 2016, acredita tão piamente que o prefeito não conseguirá guiar um sucessor para a vitória neste ano que os candidatos estão mais preocupados em ser a escolha exclusiva da oposição do que enfraquecerem as opções do prefeito.
Pelo lado de Romero Rodrigues e seus apoiadores a situação não é nem um pouco mais pacífica. Primeiramente, por causa do próprio prefeito que assim como o prefeito da capital, Luciano Cartaxo, busca anunciar suas decisões apenas quando elas já são irremediavelmente tardias e assim já não demonstram no cenário eleitoral o peso que deveria. Isso se mostrou em 2018, quando Romero ao invés de tomar a iniciativa de lançar-se candidato ao governo do estado, com chances de ser um duro opositor ao nome de João Azevêdo, não se descompatibilizou do cargo e trouxe para à disputa o nome de sua esposa que não detinha experiência em cargos eletivos e seria um nome muito mais provável como possível deputada estadual do que como vice-governadora. Neste ano, Romero mais uma vez vem fazendo dobradinha com Luciano Cartaxo ao deixar seus adversários anunciarem suas pré-candidaturas e ficarem a bater em sua gestão enquanto ele não se decide sobre quem será o seu ungido para lutar sob sua bandeira em 2020.
Tal qual uma Dona Flor da política, Romero possui seus dois pré-candidatos e não se decide em ficar apenas com um, o mesmo possui os dois deputados, Bruno Cunha Lima e Tovar Correia Lima, desejosos de serem definidos como candidatos a sucessão por ele para que assim um dos dois ponha o nome na rua. A indecisão que parte de Romero é negativa, não apenas para os dois que já poderiam estar participando mais ativamente do debate político no convencimento do eleitorado e na contraposição a opositores, mas está criando um verdadeiro embate dentro do clã Cunha Lima.
É notável que o grupo político representado por Romero é composto por figuras políticas que orbitam em torno do sobrenome Cunha Lima. Na realidade toda esta galáxia de orbes políticas vem desde o agigantamento do ex-governador, Ronaldo Cunha Lima. O fortalecimento do clã seguiu com o crescimento do seu sucessor natural o ex-governador, Cássio Cunha Lima, culminando neste verdadeiro Big Bang de sobrinhos e primos. Aparentados estes que desejam deterem este espólio político para darem continuidade a tradição familiar na política campinense e estadual.
Portanto, para um grupo que é baseado nas relações de um grupo familiar uma das piores coisas que pode acontecer é o surgimento de figuras políticas que cresçam ao ponto de fazerem oposição entre si e racharem este grupo. A indecisão poderá ser a causa de uma, até este momento evitada, separação entre Cunha Limas e um enfraquecimento do grupo de um modo geral. Muitos apontam que dentre Tovar e Bruno não há solução e que um não aceitará perder o posto de candidato para o outro e cada um vem buscando adotar a estratégia que lhe aparenta garantir o máximo de poder possível para ser o escolhido, mas que tal decisão resultará numa guerra interna. A indecisão de Romero pode estar posta sobre seu medo de ser ele o desencadeador desta crise, mas ao mesmo tempo a insufla.
Alguns até mesmo apontam que apenas o ex-senador, Cássio Cunha Lima, é o único nome que pode ser escolhido para pacificar esta situação. Como se ele ainda fosse o único pilar que sustenta esta unidade da família e que sem ele a separação é um destino inevitável. Mas há uma grande problemática na escolha do nome de Cássio para uma possível disputa em 2020. A primeira delas é o aparente desinteresse que o ex-governador desenvolveu em relação a disputar cargos eletivos depois de suas duas derrotas eleitorais. Cássio, aparentemente, desenvolveu o medo de cavalgar após as quedas que sofreu do cavalo, que era o mito do grande líder político nunca derrotado que haviam construído em torno dele e que se desfez em 2014 e que se tornou pó em 2018.
Em seguida, há o problema da aparente dificuldade do clã em se renovar, pois diante de deputados e outros nomes importantes na política estadual ainda é Cássio, que já aparenta certo cansaço de tantos anos nas disputas eleitorais, que tem de comandar. Pedro, a quem foi incumbida a missão de liderar a família e o PSDB estadual, aparentemente, não tem a força que lhe é necessária. Todo grupo com uma frágil liderança termina por rachar entre poderes menores, isto é natural na história da humanidade já tendo acontecido com impérios ou para nos apegarmos a exemplos mais recentes ocorreu com partidos na política nacional, que foram se partindo em duas novas versões ou mais.
Ainda durante a última semana vimos uma cena que poderia ter sido o ponto final de toda esta novela, mas foi apenas mais um capítulo polêmico da história. O presidente nacional do PSD Gilberto Kassab afirmou que o candidato será Bruno e que não há discussão sobre isso. Obviamente que Bruno comemorou apostando que neste momento sua candidatura era prego batido e ponta virada, mas nesse sentido ele buscou ignorar o mais importante dos fatores nesta discussão: Kassab como o próprio nome já aponta não pertence ao clã. Kassab não é de Campina Grande, ele não tem condições e elementos necessários para dar o ponto final numa discussão como esta mesmo sendo o presidente nacional do partido. Uma prova de que minha avaliação está, se não de toda correta, muito próxima da realidade é que um dia após a fala de Kassab foi o próprio prefeito de Campina Grande que veio pôr panos quentes no assunto e afirmar que o tema ainda necessite de maiores discussões.
É claro para qualquer um, exceto para Kassab que vê apenas a situação do seu partido diretamente de Brasilia, qualquer fissura que o clã e consequentemente o grupo politico que orbita em torno da família Cunha Lima vier a sofrer nas vésperas de uma eleição resultará na derrota eleitoral. Neste caso a tão famosa tática de batalha em que a tropa se divide em duas para desnortear os inimigos e assim mais fácilmente conquistar espaço no campo de batalha não será efetiva. Dividir-se em Campina significará disputer votos dentro de casa, poderá resultar numa derrota acachapante e facilitando a vitória tão desejada pela oposição que hoje degladia entre si.
O que resta de tudo isto é o questionamento de como estarão os grupos de Campina Grande em 2020 e como esta parece ser realmente uma eleição que leva para mudanças já podemos nos questionar como estarão estes grupos políticos em 2024. Quais dos tubarões da oposição ainda estarão nadando nos mares da política daqui quatro anos e já se apresentarão como figuras fortes e maduras? Como estará o grupo de Romero Rodrigues e mais especificamente o clã Cunha Lima? Ainda estarão tendo de girar em torno de Cássio como que em um carrossel? A grande pilastra terá se partido para a construção de novos grupos que deverão disputar entre si? Há muitos questionamentos e poucas certezas.
Quem talvez seja o maior beneficiário de toda esta indecisão ou guerrilhas internas dentro dos grupos adversários seja exatamente um outro clã, assim como a família de Cássio. Mas, que de modo diferente vem conseguindo voar abaixo do radar dos inimigos durante a maior parte do tempo para lançar ataques extremamente efetivos nas disputas eleitorais e assim assumir espaços que seriam considerados inesperados. Falo, do cada vez mais forte, clã Ribeiro, iniciado por Enivaldo Riberio, que atualmente ainda é o vice-prefeito de Campina
Apesar de Enivaldo ainda ser o líder de jure do grupo, pois na política familiar, tal qual numa espécie de monarquia, não é possível que filhos precedam aos pais em cargos de liderança, mas cujo líder de fato é o deputado federal, Aguinaldo Ribeiro, que vem como um maestro comandando o partido sob sua batuta e o tornando numa das maiores potencias políticas da Paraíba. Atualmente, o clã detém um deputado federal que é um dos mais cotados para passarem a presidir a Câmara dos Deputados em Brasília, uma senadora que vem buscando se mostrar operosa assumindo comissões e constantemente lançando propostas, um vereador que representaria a renovação familiar dentro de Campina Grande e, não menos importante, Enivaldo que em janeiro deixará de ser vice-prefeito, mas que neste momento está constantemente lembrando ao povo da tradição familiar que construiu em torno de seu nome.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba