Corrupção não dá ibope

Rubens Nóbrega

Lamento dizer, mas, apesar de todo o espaço que ocupa na imprensa e o trabalho que dá a instituições sérias que se dedicam a combatê-la, a corrupção não é objeto das preocupações imediatas e mais presentes na vida do cidadão comum.
Pelo menos para os mortais da Paraíba, especialmente os residentes em João Pessoa, em tese o centro político mais importante e a cidade com maior índice de politização do Estado, a corrupção seria um problema de menor importância.
Para minha enorme decepção, imensa tristeza e, tenho certeza, da maioria dos leitores deste espaço, a corrupção não figura em nenhuma lista dos cinco maiores problemas indicados pela população em recentes pesquisas de opinião pública.
Nas duas últimas pesquisas Ibope realizadas em agosto último e setembro corrente em João Pessoa, por exemplo, quando muito a corrupção alcançou as nona e oitava posições, respectivamente, entre os maiores problemas da cidade.
No mês passado, apenas 1% elegeu a corrupção como um grande problema na Capital paraibana. Este mês, subiu para 2% o número de entrevistados pelo Ibope que botaram a corrupção em primeiro lugar no ranking dos problemas.
Com base nesse ‘desempenho’, podemos dizer que a corrupção ‘perde’ feio para a saúde na lembrança ou na percepção do povo ouvido tanto pelo Ibope como por outros institutos, entre os quais o Ipespe, que faz pesquisas para este Jornal.
A maioria não percebe

Talvez se encontre justamente aí, na percepção do público, a explicação mais lógica para a corrupção ser relegada a terceiro, quarto ou quinto plano. Triste dizer, mas parece que a corrupção “só tem fama”, como diria a piada impublicável.
Seguindo essa linha de raciocínio e os dados disponíveis, conclui-se que a maioria das pessoas não percebe que saúde ruim é conseqüência direta da corrupção, ou seja, do mal que ela faz não apenas à saúde, mas também à educação, à segurança…
Mal que se origina, sobretudo, no tanto de dinheiro do povo que a corrupção desvia, impedindo que tenhamos serviços públicos de qualidade, prestados por profissionais bem remunerados na saúde, na educação, na segurança…
É a corrupção que tira o médico do PSF, deixa faltar o equipamento mais necessário para o hospital funcionar, o livro mais certo para o aluno da escola pública estudar. É a corrupção que estimula o policial a trocar o dever pelo bico ou coisa pior.
Por tudo isso e muito mais, talvez a corrupção não seja mesmo um problema em si, mas um instrumento dos nossos maiores problemas ou um vetor de todas as pragas que infestam a vida pública de maus políticos e administradores incompetentes.
Zero efeito na campanha

Segundo o último Ibope, saúde é o maior problema da nossa cidade de acordo com a opinião de 34% dos seus entrevistados. Já na pesquisa Ipespe de julho deste ano, a saúde atingiu o índice de 48% como o nosso grande problema.
Voltando ao que apurou o Ibope, por esse instituto a corrupção também ‘perde’ para drogas (15%), segurança pública (14%), educação (8%), calçamento de ruas (6%), transporte coletivo (5%), trânsito (4%) e empata com administração pública.
Por esses números e o fato de estarmos em pleno período eleitoral, dá pra dizer também (e lamentar mais uma vez) que produz nenhum efeito denunciar ou associar candidato à corrupção ou a figuras supostamente corruptas.
A partir dessa constatação, mais triste ainda é concluir que apenas um tipo muito especial de corrupção será de enorme valia na atual campanha, pelo menos para uma candidatura em particular.
Refiro-me à corrupção eleitoral, a única que pode não apenas botar essa candidatura no segundo turno como fazê-la competitiva, com chances reais de vitória. Fora isso, não vejo como esse projeto ter êxito.
Proposta aos candidatos

Quem estiver interessado em um voto de muita qualidade nas eleições de outubro próximo basta aceitar a proposta bacana feita ontem pelo cantor, intérprete e compositor Paulo Vinicius aos que desejam governar a Capital.
PV garante votar no candidato a prefeito que desapropriar aquele grande terreno, uma quadra na verdade, que deve ser o mais caro de toda João Pessoa e fica em frente ao Busto de Tamandaré, em Tambaú.
Segundo consultor imobiliário da minha confiança, aquilo lá – que dizem ter sido comprado há mais de 20 anos pelo apresentador de tevê Gugu Liberato – deve valer algo em torno dos R$ 30 milhões.
Mas não basta desapropriar. O candidato tem que se comprometer a transformar aquela magnífica área em um “espaço público permanente de cultura e lazer, com anfiteatro para apresentações de música, dança, teatro, artes plásticas, enfim, todas as manifestações de nossa cultura”, ressalta o proponente.
E, talvez pressentindo que a sua proposta não venha a ser acolhida por qualquer dos candidatos que estão na parada, o nosso PV já antecipa sua expectativa. “Pense num voto difícil!”, arremata o artista.