Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior número de pessoas ansiosas do mundo. De acordo
com o levantamento, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população.
De acordo com um estudo feito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), os problemas de saúde mental estão aumentando
devido a pandemia do novo Coronavírus e consequentemente o isolamento social obrigatório. Os estudos apontam que os casos de
estresse e ansiedade dobraram e a depressão teve aumento de 90%.
A psicóloga clínica Karla Michelle Cabral França Azevedo, especialista em Saúde Mental respondeu algumas perguntas ao Polêmica Paraíba, para termos um entendimento mais aprofundado sobre o assunto:
Polêmica Paraíba: Tem feito atendimentos à pessoas com ansiedade nesse tempo de pandemia?
Karla Michele: Sim. Mantive meus atendimentos de forma online e houve um aumento na procura de terapia devido a quarentena. A maior demanda hoje é o temor quanto ao futuro pós pandemia, angustias e solidão que se intensificaram com a crise epidêmica. Recentemente uma pessoa procurou escuta porque será preciso voltar ao trabalho presencial nos próximos dias, e isto estava lhe tirando o sono, gerando temor e ansiedade.
Polêmica Paraíba: Neste momento de pandemia, qual fator determinante que tem causado maior ansiedade nas pessoas?
Karla Michele: A desinformação, o medo do desconhecido. Em momentos de tensão como a crise epidêmica que estamos vivendo, as pessoas tendem a sofrer mais, já que as incertezas sobre a doença e os isolamentos sociais para a prevenção acabam nos tornando mais frágeis. Durante o confinamento: cômodos apertados, problemas familiares, problemas financeiros, de saúde e interpessoais precisaram, e ainda precisam, ser administrados.
Polêmica Paraíba: Quais sinais as pessoas apresentam, que podem ser identificados como ansiedade?
Karla Michele:Mente inquieta ou agitada, sensação de impotência perante os acontecimentos, irritabilidade, angústia (choro fácil), tristeza, sentimentos de desamparo, tédio, solidão podem ser intensificados, também reações comportamentais como alterações do sono (insônia, sono em excesso, pesadelos), alterações de apetite (falta ou apetite em excesso), sofrimento por antecipação com pensamentos recorrentes sobre a pandemia, a saúde da família, e relacionados a morte ou morrer, além dos sintomas físicos como: queda de cabelo, roer unhas, sudorese, problemas de pele, podendo também apresentar falta de ar, coração acelerado, entre outros.
Polêmica Paraíba: Tem como prevenir?
Karla Michele: Sim. Primeiramente reconhecer e acolher seus receios e medos, procurando pessoas de confiança para conversar. Evitar o excesso de informações, a grande dica é procurar fontes confiáveis para se informar, não ficar o dia todo assistindo aos noticiários, procurando apenas um horário do dia para se informar. Tentar estabelecer uma rotina diária, podendo criar um cronograma com horários para estudo, trabalho, meditação. Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas. Evitar o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções.
Polêmica Paraíba: Tem como controlar?
Karla Michele: Sim. O autoconhecimento nos leva a reconhecer quando estamos entrando em uma crise de ansiedade. Quem já sofre de transtorno de ansiedade e passou por crises, pode retomar as estratégias e ferramentas de cuidados já utilizado em momentos de crise ou sofrimento. Se possível, procure fazer algum tipo de exercício físico. Você pode fazer alongamentos ou Yoga se o espaço da sua casa permitir. Caso haja um jardim, por exemplo, você pode aproveitar para fazer algum tipo de exercício aeróbico. Procure se alimentar bem ao longo do dia.
Polêmica Paraíba: Na ausência de um profissional especializado, o que pode ser feito em casa, para amenizar os sintomas de ansiedade?
Karla Michele: A crise de ansiedade pode causar um sentimento de distanciamento ou separação da realidade, nesses momentos é importante se concentrar em sensações físicas com as quais estão familiarizados, como em um objeto. Durante a crise, tudo perde o sentindo e o medo fica intenso. Por isso, a habilidade de focar em um objeto que esteja mais próximo ajuda a retirar a atenção sobre os sintomas corporais, o que faz acalmar até que todas as sensações desapareçam. Então, procure por um objeto próximo e descreva para si a cor, a forma e o tamanho dele. Durante a crise de ansiedade é comum respirar rapidamente (a chamada hiperventilação), porém, isso pode piorar os sintomas, já que reduz a taxa de gás carbônico no sangue. Inspire e expire profundamente pela boca, da seguinte forma: puxe o ar lentamente contando até quatro; segure a respiração por um segundo e solte o ar novamente, contando de novo até quatro.
Polêmica Paraíba: Quais as principais consequências de uma crise de ansiedade?
Karla Michele: Além dos sintomas que já trouxemos pode ocorrer um abalo na autoestima, isolamento social pós pandemia, o medo do retorno as atividades acadêmicas, laborais, baixo limiar para lidar com frustrações, baixa imunidade, dores físicas e a depressão. Sofremos de ansiedade desde o nosso nascimento, as angustias estão presentes em nossas vidas, é preciso buscar um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional.
É importante ressaltar que, caso os sintomas se tornem recorrentes e/ou mais intensos, procure a ajuda de um profissional. Durante a pandemia, muitos psicólogos e terapeutas têm aproveitado para atender aos pacientes virtualmente.
Fonte: Adriany Santos
Créditos: Adriany Santos