Um programa do governo da Paraíba para inserir presos no mercado de trabalho leva o nome do lema que era afixado na entrada de campos de concentração nazistas, que usavam mão de obra forçada de prisioneiros.
Batizado de “O Trabalho Liberta” –frase cuja tradução em alemão é o infame lema nazista “Arbeit Macht Frei”–, o programa funciona desde 1996. Atualmente, 403 dos cerca de 8.000 presos da Paraíba são beneficiados.
Eles trabalham em empresas conveniadas, como um jornal de João Pessoa, ou em instituições públicas, como a Universidade Estadual da Paraíba –onde 55 presidiários fazem serviços gerais.
A maior parte deles cumpre pena no regime aberto e semiaberto e todos recebem um salário mínimo e têm parte da pena abatida. Segundo a coordenadora do programa, Maria Enilda Cordeiro, o nome nunca foi alvo de reclamações.
“É só coincidência. Os únicos que questionaram o nome são aqueles que estudaram [o filósofo Michel] Foucault, que diz que o trabalho não é o único mecanismo de ressocialização”, afirma.
“Não tem nada a ver com isso [nazismo]”, diz ela.
Maria Enilda afirma que não sabe em que circunstâncias o nome foi escolhido.
“É até um nome que já cansou. Em breve ele deve ser mudado, provavelmente para algo mais bonito.”
O slogan “O Trabalho Liberta” foi usado inicialmente pelo governo alemão pré-nazista para divulgar grandes obras públicas. Após a tomada do poder por Adolf Hitler (1889-1945), em 1933, o lema continuou a ser usado em campos de concentração.
Neles, os prisioneiros –entre eles judeus, ciganos e comunistas– cumpriam longas jornadas de trabalho forçadas, na maioria das vezes até morrerem de exaustão ou serem executados.
“Aqui é bem diferente. É um programa para devolver a dignidade dos presos”, diz Maria Enilda Cordeiro.