Em uma troca de mensagens com Fabrício Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, esposa do ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), disse que só sairia do Rio se estivesse com a prisão decretada, aponta o MP-RJ (Ministério Público do Rio).
Ela é considerada foragida pela Justiça desde quinta-feira (18), quando Queiroz foi preso preventivamente em Atibaia (SP) em um imóvel que pertence a Frederick Wassef, advogado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O casal é acusado de participar de um suposto esquema de rachadinha na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), quando servidores devolvem parte dos seus salários.
“Mais [sic] só se estivéssemos com prisão decretada. Sabe que isso será impossível né? Mais [sic] vamos aguarda [sic]”.
A afirmação foi dada por Márcia às 11h58 de 24 de novembro do ano passado, conforme consta no relatório encaminhado pelo MP à 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. De acordo com a investigação, Queiroz estava em Atibaia (SP) e questionava a esposa sobre a possibilidade de ela deixar a capital fluminense e ir para São Paulo.
“Está na casa do anjo?”, perguntou Márcia. “Estamos”, respondeu Queiroz. “Resume ele falou alguma coisa?”, questionou. “Querendo mandar para [sic] todos para São Paulo se agente [sic] não ganhar. Aquela conversa de sempre”.
Em um primeiro momento, Márcia descartou a possibilidade: “Morar aí? Acho exagero”. “Não vamos entrar no mérito agora”, respondeu Queiroz. Em seguida, Márcia disse que só consideraria a possibilidade se estivesse com a prisão decretada.
De acordo com a investigação, os diálogos indicam que o casal estaria obedecendo às instruções de alguém identificado como “Anjo”, o apelido do advogado Frederick Wassef. Em entrevista dada à Folha de S. Paulo no sábado, ele negou ter “escondido” Queiroz e disse que não é “Anjo”. Ele também afirmou nunca ter trocado mensagens ou telefonado para Queiroz.
Márcia recebeu R$ 174 mil de origem desconhecida, diz MP
Documentos apreendidos na casa de Márcia em operações anteriores apontam que ela recebeu R$ 174 mil em dinheiro de uma origem ainda desconhecida. Segundo o MP-RJ, ela pagou despesas de um tratamento médico de Queiroz no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, também com dinheiro em espécie.
Segundo o MP-RJ, a rachadinha ocorreu no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro entre abril de 2007 e dezembro de 2018. Os promotores apontaram Queiroz como o operador financeiro de um esquema que movimentou mais de R$ 2 milhões no período, com a participação de ao menos 11 servidores, que repassavam 40% dos seus salários —média de R$ 15 mil por mês, segundo levantamento feito pelo UOL.
Os recolhimentos eram feitos próximos às datas dos pagamentos dos salários de funcionários fantasmas da Alerj. Eles eram ligados a Queiroz por relações de parentesco, vizinhança ou amizade, aponta o MP-RJ.
Entre eles, Márcia Oliveira de Aguiar, que recebeu mais de R$ 1 milhão no período em que era servidora. Segundo o MP-RJ, ela repassou cerca de R$ 445 mil em transações bancárias para Queiroz em pouco mais de dez anos.
Flávio Bolsonaro diz ser vítima de campanha de difamação
A assessoria de imprensa de Flávio se posicionou ontem (20) por meio de nota. O texto diz que o político é vítima de uma campanha de difamação orquestrada por um grupo político. Ele alega inocência, garante que o patrimônio dele é compatível com os seus rendimentos e diz acreditar na Justiça.
Na sexta-feira (19), parlamentares da oposição entregaram uma representação no Conselho de Ética do Senado, em Brasília, pedindo a cassação de Flávio por quebra de decoro parlamentar.
Entre os motivos alegados pela oposição para o pedido estão o suposto envolvimento de Flávio com as milícias, a rachadinha, lavagem de dinheiro e emprego de funcionários fantasmas.
Sou um cara de negócios, disse Queiroz
O advogado Paulo Emílio Catta Preta contesta a prisão preventiva. Segundo ele, Queiroz estava colaborando com as investigações. Entretanto, ele faltou a depoimentos em 2018. Segundo o MP-RJ, forneceu endereço falso e ocultou o seu paradeiro, para obstruir as investigações.
A defesa de Queiroz entrou com pedido de substituição de prisão preventiva por prisão temporária, citando o tratamento a um câncer no intestino. Mas o pedido foi negado pela Justiça.
Em entrevista ao SBT em 2019, Queiroz negou ser “laranja” de Flávio. Segundo ele, parte da movimentação atípica de dinheiro vinha de negócios com a compra e venda de automóveis. “Sou um cara de negócios, eu faço dinheiro… Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro. Sempre fui assim”, afirmou na ocasião.
Fonte: UOL
Créditos: UOL