OS FINS E OS MEIOS

Seria cômico, se não fosse trágico, admitir corruptos desenvolvendo luta contra a corrupção - Por Rui Leitão

Essa é uma discussão muito pertinente para o atual momento brasileiro. Parece ser generalizada a aceitação de que “os fins justificam os meios”. A que ponto nós chegamos! O código de ética já não é mais um regramento a ser observado quando se pretende alcançar alguns objetivos. Ao desfraldar a bandeira de combate à corrupção passa a ser válido cometer ilegalidades e desrespeito a princípios constitucionais e conceitos de moralidade. Seria cômico, se não fosse trágico, admitir corruptos desenvolvendo luta contra a corrupção.

Estamos vendo a utilização de expedientes desonestos como alegação para atingimento de metas estabelecidas, falsamente consideradas como legítimas. Observar que os que têm a responsabilidade de fazer cumprir as leis, sejam os primeiros a desrespeitá-las, em nome de uma batalha que se apresenta como virtuosa ação em defesa da moralidade e da ética, é algo preocupante e triste.

Por isso a classificação de maquiavélicas às pessoas que adotam esse comportamento como estratégia política, na observância da doutrina ensinada pelo escritor florentino Maquiavel, em seu célebre livro O Príncipe. A arte da maldade como qualidade positiva. O entendimento de que, para conquistar benefícios, tornam-se lícitas quaisquer atitudes, ainda que ferindo conceitos tradicionalmente adotados como decentes.

Essa é uma questão que merece reflexão séria. Precisamos considerar primeiro se a ação tem prevalência da moralidade. Segundo, se o seu resultado preserva objetivos inquestionavelmente morais e éticos. E, por fim, se os protagonistas da ação podem ser apontados como indivíduos que, por suas condutas, possam ser referenciados como moralistas. As motivações jamais podem desprezar o respeito à moralidade e à ética. É inadmissível condicionar valores a situações. Não existe ilicitude bem intencionada. Nem há “meio pecado”. Quando isso acontece misturam-se os “criminosos”, uns pousando de “bonzinhos”, cidadãos de bem, e outros apontados propositadamente como bandidos.

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba