Se existe uma coisa que se apresenta como grave ameaça à democracia é essa onda negacionista que vem se alastrando no mundo, mas especialmente no Brasil desde que assumiu o atual presidente da república. Estamos entrando na era da desinformação como estratégia política. Percebe-se a nítida intenção em negar verdades históricas, mesmo que enfrentando comprovações que resultaram de pesquisas científicas e registros documentais. O negacionismo detesta a transparência, no receio de que seus argumentos sejam desmentidos de forma incontestável.
Impressiona como expressam convicções que se tornam motivo de piadas, por tão inverossímeis, como por exemplo a de que a terra é plana. É de surpreender que pessoas com algum nível cultural não se envergonhem de embarcar nessa “onda”. Rejeitam a ciência como instrumento de compreensão do mundo e de orientação para definição de políticas públicas. Preferem substituir consensos universais por crendices absurdas. Decisões passam a ser tomadas à revelia das revelações científicas.
Somos cotidianamente bombardeados por teorias conspiratórias, fakenews, pós-verdades, fenômenos que se mostram correlatos para alcance de objetivos políticos que agridem a noção do que seja democracia. O objetivo é não permitir que a sociedade tenha informações corretas que possam comprometer suas ideias, ainda que absolutamente fora da realidade. Para tanto, falseiam dados estatísticos e deturpam relatos históricos na conformidade dos seus interesses. Estimulam a formação da dúvida, no intuito de tirarem proveito das incertezas criadas.
A mais recente ação negacionista é quando procuram, a qualquer custo, minimizar os efeitos nefastos da pandemia do covid-19. Insistiram enfaticamente no entendimento de que a doença que tem assustado o mundo não passava de uma “gripezinha”, sem maiores consequências. Ao perceberem que o surto epidêmico do coronavírus é muito mais maléfico do que teimavam em afirmar, resolveram adotar outra tática diversionista, maquiar os dados estatísticos de mortos e infectados, num esforço desesperado de oferecer credibilidade ao que propagavam.
Esqueceram, todavia, que “os cemitérios não mentem”. Não há como esconder essas verdades tão trágicas e dolorosas para todos nós brasileiros. Aliás, não sei se por mera coincidência com o fato de termos os militares comandando o ministério da saúde, mas idêntico procedimento se deu na ditadura militar por ocasião da meningite epidêmica. Essa é uma prática muito comum em regimes totalitários. Tome-se como exemplos os governos da Coréia e da Venezuela. A transparência nunca foi uma marca administrativa dos tiranos. Vale tudo para que não se divulgue o cenário catastrófico que se confirma a cada dia. Ou então transferir responsabilidades das atitudes de omissão para aqueles que tiveram a coragem de adotar medidas preventivas sanitárias no momento certo. Imaginem se os governadores e prefeitos tivessem entrado nessa “onda” negacionista. A situação hoje seria muito mais dramática.
Portanto, o negacionismo que se evidência em nosso país tem sido um artifício para agredir os conceitos de democracia que desde a promulgação da Constituição de 1988 temos procurado preservar e respeitar. A ideologia anticiência não se harmoniza com democracia. Para não se desmoralizarem diante do drama infelizmente vivenciado pela população brasileira, encontram na desinformação o único caminho para se eximirem das responsabilidades. Agora é tarde, o mundo inteiro já sabe que somos o epicentro da doença. De nada adianta permanecerem nessa posição negacionista, uma vez que a realidade explícita não resiste aos ensaios de escamotear informações que refletem a realidade que todos vêem. As instituições democráticas estão reagindo, graças a Deus. A questão não é ser de direita ou de esquerda, mas sim de defesa da democracia e do direito da população ter acesso a informações verdadeiras, sejam elas boas ou ruins. Até para que possa se proteger do pior.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba