O repórter dos programas de entretenimento da Globo, Manoel Soares relatou o temor que sentiu ao ser abordado pela polícia esta semana. “Quando eles me pararam, eu fiquei com muito medo”, disse durante entrevista por videochamada no Encontro desta quinta-feira (4). Ele ainda afirmou que foi algemado por ser “muito grande” e contou que já ensinou os filhos a como agir durante uma abordagem policial.
A atração comandada por Fátima Bernardes promoveu um debate sobre o racismo no Brasil. Manoel Soares, Rafael Zulu, Maíra Azevedo (a Tia Má) e Valéria Almeida foram convidados para contar experiências próprias de quando foram vítimas do preconceito racial.
“Eu, por exemplo, essa semana fui parado pela polícia. Quando eu sai do carro, o policial viu que eu era grande, ele teve uma postura um pouco mais agressiva. Inclusive, foi incentivado pelos seus colegas de trabalho a me algemar porque eu era muito grande”, relatou Manoel.
“E o meu filho de 18 anos dirige o meu carro, e se fosse meu filho naquele momento? E se não tivesse essa sagacidade? Entende?”, continuou ele. A apresentadora perguntou aos convidados como é criar filhos negros diante de uma sociedade ainda extremamente racista.
“Primeira coisa que eu tive que fazer… A gente faz isso há um bom tempo, mas ensinar meu filho a tomar uma geral da polícia. É horrível fazer isso. Você tem um filho lindo, Fátima, não sei se em algum momento da sua vida, você teve que chegar no seu filho quando ele tinha nove anos de idade, encostá-lo na parede como se você fosse um policial e simular uma abordagem”, narrou o repórter do É de Casa.
“Eu tive que fazer isso com os meus filhos e faço com meus sobrinhos. Eu sei o que isso representa. E quanto mais escura é essa pele, mais você precisa ensinar o seu filho a, na hora que tiver recebendo a abordagem policial, manter as mãos em local visível, falar sempre ‘sim, senhor’, evitar poses que transmitam arrogância”, continuou ele.
“Criar um filho com confiança, que ele tenha acesso a direitos, pra quem é negro no Brasil passa por uma outra esfera que é ter que ensinar o seu filho que precisa ter cuidado. Porque mesmo não tendo nada de errado, mesmo estando certo, ele pode morrer”, afirmou o funcionário da Globo.
“E agora com o período da pandemia é mais complicado porque você tem uma máscara no rosto. Isso cria um julgamento”, continuou Manoel. Fátima relembrou que o colega foi vítima de racismo justamente por usar a máscara de proteção durante uma reportagem no É de Casa.
Outros relatos
Grávida, Maíra Azevedo lamentou que a violência contra negros no Brasil não seja combatida. “Já naturalizaram essas mortes, corpos pretos morrendo já não causam mais tanta comoção”, afirmou.
“Toda vez que meu filho faz aniversário, eu faço a festa dele, mas entro em desespero. É um desespero real que toda a mãe preta tem, que é que um dia meu filho se torne um alvo preferencial das mais diversas formas de violência”, contou Tia Má.
Valéria Almeida também narrou alguns momentos em que sofreu com o preconceito. “Passei por muitas experiências ruins com relação ao racismo. Ser acusada de tá sequestrando a minha sobrinha, a minha afilhada, que é branca. São vários absurdos, de estar roubando meu próprio carro e, inclusive, do meu crachá da empresa ser falsificado. Várias coisas”, começou a convidada.
Ela relatou que o episódio mais marcante com o racismo foi quando os irmãos foram abordados pela polícia durante o cortejo da morte do pai.
“Eu olho pelo retorvisor e tem um monte de armas apontadas pro carro que tava atrás do meu. Quando identifiquei que atrás de mim eram os meus irmãos, na hora eu desci do carro. Eu nem sei de onde saiu tanta força, eu parei o cortejo, parei o caixão no meio da avenida, bloqueando tudo. Eu falava: ‘Meu pai não vai ser enterrado sem os filhos dele'”, narrou Valéria.
“Um amigo branco, que era o dono do carro, dirigia. E os meus três irmãos negros tavam dentro do carro. O policial falou que a gente tinha que entender que aquilo era uma cena suspeita”, afirmou. A repórter frisou que também ensina o filho como reagir a uma abordagem policial: “Não existe margem pra erro quando você é negro”.
Rafael Zulu afirmou que também conversa com a filha Luiza sobre racismo. “[Eu falo para ela] O fato de você ser filha de alguém que tem vida pública não te isenta de absolutamente nada. Muito pelo contrário, às vezes isso te leva a ser ainda mais prejudicada”, disse ele.
O ator relembrou um momento em que a filha, aos dez anos, foi escolhida para ser a protagonista de uma peça de teatro na escola, mas ouviu de uma colega de classe que ela não poderia assumir o papel pois “não é pra preta”.
Fonte: noticiasdatv
Créditos: noticiasdatv