opinião

Uma sociedade dispersa por falta de comando - Por Rui Leitão

O amor e a compaixão desaparecem no embate da radicalização político-ideológica. Pouca paz e harmonia, ensejando, por consequência, muito ódio e fúria.


Os tempos conturbados que estamos vivendo em razão da pandemia do coronavirus, nos coloca numa sensação de que somos uma sociedade desamparada. Isso se evidencia muito mais no Brasil, quando o chefe da nação se abstrai totalmente das responsabilidades que lhe são inerentes no exercício do cargo a que foi alçado. Ao invés de assumir a liderança do processo de combate à epidemia, decide politizá-la, deflagrando conflitos desnecessários. Na ausência de comando, os governadores e prefeitos se antecipam nas providências que se fazem necessárias para minimizar os efeitos da doença e reduzir o seu impacto no sistema de saúde existente. Mas se ressentem de uma ação central de organização das ações demandadas.

Percebe-se um irresponsável estímulo à banalização da tragédia. Uma falta de empatia que assusta. Um incentivo ao desrespeito com a dor do próximo. Falta de solidariedade no luto coletivo que nós brasileiros estamos vivendo. O amor e a compaixão desaparecem no embate da radicalização político-ideológica. Pouca paz e harmonia, ensejando, por consequência, muito ódio e fúria.

O que mais precisamos neste momento é de congraçamento, exercitarmos o espírito de humanidade, nos darmos às mãos num só propósito: vencer essa guerra contra um inimigo invisível. Uma sociedade com comportamento primitivo caminha às cegas, porque carece de liderança, coordenação planejada. Não é hora de afirmação das personalidades egocêntricas e personalistas. O instante é de compartilhamento de competências para a luta contra o surto epidemiológico que nos ameaça.

A irracionalidade, o improviso, o desprezo pelo que nos orienta a ciência, não ajudam a vencer a guerra. O chefe de estado não pode agir como se estivesse brincando de ser presidente. A sua vontade nunca poderá ser inquestionável. Isso é postura de quem está vocacionado para a tirania. O líder, para ser respeitado e obedecido, deve, antes de tudo, ser alguém que saiba decidir, ouvindo e refletindo, sem impor seus desejos no uso da força. Ele tem que ser admirado, e jamais temido. Aos gritos e determinações insensatas, suas ordens não encontram aceitação entre os governados.

Tem que ter noção de trabalho em equipe. Saber distribuir tarefas. Ter consciência firme das ideias que direcionam seus projetos administrativos. Compreender bem a missão que carrega sobre os ombros. Demonstrar ser uma pessoa que compreenda bem o que esteja fazendo, para assim transmitir confiança no seu papel de comandante. Se não houver engajamento entusiasmado e solidário para confrontar a crise, a sociedade se dispersa e se movimenta de forma desorganizada. E o caos encontra espaço para se instalar.

O sentimento é de que a sociedade brasileira está eventualmente acéfala. Falta a cabeça orientadora, a voz de controle da situação, o exemplo de autoridade a ser seguido com confiança. Ser presidente da república não é apenas usar do status, sem se envolver de corpo e alma no compartilhamento quando preciso das agruras e dores da sociedade como um todo. Um chefe de governo não pode prescindir de algo que é determinante para o sucesso de sua gestão: a sensibilidade social. Dar importância prioritária a salvar vidas, para depois tratar de recuperar a economia. Os CPFs que desaparecem vitimados pelo Covid-19 não têm como retornar ao nosso convívio. Porém os CNPJs podem ser recuperados depois.

Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão