Pesquisa eleitoral virou Geni

Rubens Nóbrega

A Abraji, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (abraji.org.br), divulgou anteontem nota de repúdio às decisões de juízes eleitorais que proíbem a divulgação dos resultados de pesquisas de intenção de voto.

Incluindo João Pessoa entre as cidades onde tal proibição teria acontecido, a entidade diz que decisões nesse sentido equivalem a uma censura prévia com o agravante de cerceamento ao direito do eleitor à informação.

“A Abraji espera que o Tribunal Superior Eleitoral derrube essas liminares (decisões provisórias) e faça cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal que garantiu a publicação irrestrita das pesquisas eleitorais”, acrescenta.
No caso específico da Capital paraibana, é preciso esclarecer ou lembrar que não houve proibição da divulgação do resultado, mas suspensão das entrevistas que vinham sendo feitas para uma pesquisa Ibope.

Com um detalhe: antes de a Justiça Eleitoral se pronunciar, o próprio Instituto teria se antecipado e decidido cancelar o trabalho de campo, após reconhecer publicamente, em nota à imprensa, que houve erro de impressão e utilização de uma das cédulas no levantamento iniciado e interrompido semana passada.

No papel denunciado e demonizado por segmentos e expoentes governistas, estava suprimido o nome de Estelizabel Bezerra, candidata do governador Ricardo Coutinho a prefeito da Capital. O fato gerou confusão, especulação, o cancelamento devido e, lógico, muito aproveitamento político. Normal geral. Previsível.

O episódio serviu ainda para reforçar a campanha dos mais interessados e aplicados em desqualificar as pesquisas em geral, criando uma imagem tão negativa delas no senso comum que acabam por transformar pesquisas de opinião na Geni do processo eleitoral. Tem sido assim na Paraíba, particularmente em sua Capital.

Deve gerar algum lucro a estratégia. No mínimo porque botaria dentro de muitas cabeças a dúvida sobre se é verdadeira ou não a posição desconfortável de candidatos que estão atrás nas intenções de voto. Quem disso cuida, ou seja, quem precisa fazer das pesquisas esse cão danado, merecedor da pena de morte por apedrejamento, não é, seguramente, quem está na frente.

Mas há ainda uma lição adicional a ser extraída desses casos. É a certeza de que erros como esse atribuído ao Ibope somente podem ser detectados no trabalho de quem vai realmente às ruas pesquisar a preferência do eleitorado.

Uma coisa assim jamais aconteceria, por exemplo, com institutos que ensaiam pesquisa de fluxo para parecer que fizeram pesquisa, mas na verdade deixam para o contratante a tarefa de preencher entre quatro paredes os formulários que restam para atingir a mostra e o resultado desejado, combinado, contratado ou já pago.

E olha que o restante de formulários é quase sempre a quase totalidade da ‘pesquisa’. E o preenchimento, feito com dados de entrevistas e entrevistados fictícios, obviamente, em operação realizada dentro de confortáveis e refrigerados gabinetes.

Braçal por excelência, é um trabalhão medonho fazer as tais pesquisas esferográficas. Sem contar que as munhecas ficam doloridas e alguns com problemas circulatórios sentem cãibras nos dedos polegar e indicador, disse-me outro dia um preenchedor ad hoc.

Mas, no final de tudo, é como dizem sobre determinados crimes praticados no Brasil… Compensa!

Contratações em massa

Apesar das gestões e ações do Ministério Público Estadual para que Estado e prefeituras parem de inchar a folha com empregos temporários e façam o que manda a lei, ou seja, concursos públicos para selecionar força de trabalho qualificada, a Prefeitura de João Pessoa não para de contratar.

Mais 266 novos prestadores de serviço foram ‘recrutados’ pela Prefeitura da Capital no mês de julho passado, segundo informação colhida ontem no Sagres, o sistema de acompanhamento de gastos públicos disponível no sítio do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Em junho, a PMJP tinha 10.893 pessoas contratadas “por excepcional interesse público”. Em julho, esses contratos excepcionais ultrapassaram a barreira dos 11 mil e alcançaram a histórica marca de 11.159 prestadores de serviço, contra 8.736 servidores efetivos.

Fico devendo, contudo, os números de julho do Governo do Estado. O TCE ainda não os recebeu, pelo visto. Quando forem publicados, trarei aos leitores deste espaço, para que acompanhem comigo essa verdadeira olimpíada de contratações em massa.

Lembrando sempre que tal competição, neste momento, dá asas à imaginação e à desconfiança de que os dois governos estariam reforçando seus exércitos de cabos eleitorais para a batalha de 7 de outubro próximo.

O GE também ‘na roda’

Na coluna de amanhã, informações do Ministério Público Estadual mostrarão que a Instituição não “pega no pé” apenas de prefeituras em matéria de prestadores de serviço. O Governo do Estado também é alvo de inquéritos e ações judiciais.