Hoje decidi me submeter ao desprazer de assistir, na íntegra, a entrevista que a secretária nacional de cultura, a atriz Regina Duarte, concedeu à CNN. Ainda que perplexo pelo que estava vendo, suportei o martírio de ir até ao fim daquele espetáculo de bizarrice e loucura. Não foi só um sentimento de surpresa com o que estava vendo, mas fui despertado também para um sentimento de profunda tristeza, ao constatar a indiferença com que o governo federal está tratando o movimento cultural de nosso país.
Ela não revelou apenas o seu caráter duvidoso, sua índole perniciosa, mas, principalmente, o total despreparo para o exercício do cargo a que foi alçado. Além de não apresentar qualquer projeto idealizado nesses sessenta dias em que está à frente da pasta, dedicou -se ridícula e descaradamente a protagonizar cenas de desrespeito às dores dos brasileiros que estão perdendo familiares e amigos vitimados pelo coronavirus. Chegou ao cúmulo de dizer que não hipotecou solidariedade à cultura brasileira com a perda de nomes destacados da arte, da música e da literatura, porque alguns deles ela não conhecia pessoalmente, citando Aldir Blanc. Eximiu-se da responsabilidade de procurar apoiar e socorrer seus colegas artistas que estão sofrendo com o necessário isolamento social que a ciência e a medicina estão recomendando para enfrentar o surto da doença. Uma insensibilidade doentia e cruel.
Riu das mortes que a pandemia está provocando no Brasil, cantou louvores à ditadura militar, desdenhou do luto nacional que estamos vivendo. Uma lástima, em todos os sentidos. Uma violenta agressão aos valores culturais do país. Uma ignorância inaceitável para quem recebeu a incumbência de tratar das questões culturais da nossa nação.
Aliás, nem sei se ela recebeu mesmo essa incumbência. Ao que parece a intenção foi essa mesma, colocar na secretaria alguém que não tivesse qualquer compromisso com a valorização da cultura nacional. Tem sido essa a demonstração do governo, ao ideologizar para a extrema direita as ações direcionadas à cultura.
Intelectualmente pobre, moralmente deficitária, profissionalmente desqualificada, Regina Duarte causou uma enorme preocupação quanto ao trabalho que o governo teria obrigação de exercer em defesa do nosso patrimônio cultural. E o pior é que não vemos perspectivas disso mudar. Ela está perfeitamente enquadrada no perfil de muitos dos que integram o ministério do atual governo.
O cenário para o universo cultural no Brasil é desolador. Infelizmente.
Rui Leitão
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão