Ele não consegue desarmar o palanque da campanha eleitoral. Após a posse decidiu reservar um espaço em frente ao Palácio da Alvorada, onde passou a morar, atualmente conhecido como o “cercadinho”, para iniciar sua agenda oficial. Lá se reúne toda manhã um grupo de populares com o propósito de mostrar admiração pelo seu jeito meio estúpido de ser. Assim começa o seu dia infalivelmente, atendendo sua necessidade de se mostrar um líder popular.
A claque ri das suas bizarrices, aplaude suas críticas à imprensa e a qualquer um que o contrarie, não enxerga nos seus comentários a personalidade machista, preconceituosa e inculta, que encarna. Seus fanáticos vão ao delírio com qualquer estultice pronunciada. Para o fã clube entrar no cercadinho tem que obedecer algumas normas definidas por sua segurança pessoal. Uma delas é a proibição de faixas ou cartazes de oposição, de forma a garantir que o grupo seja composto totalmente por apoiadores. Urros eufóricos são ouvidos quando ele responde com impropérios alguma pergunta feita por jornalistas que não seja do seu agrado.
O “cercadinho” é o espaço planejadamente reservado para afagar os admiradores, atacar os adversários escolhidos a cada dia, alimentar futricas e construir crises arquitetadas no chamado “gabinete do ódio”, comandado por seu filho Carluxo. Nem sempre o que ele fala ali é a expressão do seu temperamento irascível e inconsequente. Nem tudo é espontâneo. Muitas vezes já chega com o script produzido, de forma a alimentar o discurso dos militantes e pautar o noticiário matinal da mídia. Tudo muito parecido com o comportamento do ex-presidente Collor quando saía diariamente da Casa da Dinda. Com algumas diferenças, Collor era intelectualmente mais preparado e não tinha esses rompantes próprios de um indivíduo bronco. Mas será que terão o mesmo fim?
O local funciona como importante ferramenta de comunicação. Há momentos, porém, que se torna um picadeiro de circo, produzindo cenas risíveis. Igualmente, percebemos oportunidades em que se transforma num ambiente de provocações beligerantes, palco de discursos ofensivos e irados. Mas há, também, momentos em que os fundamentalistas religiosos se ajoelham em orações, uma vez que crêem estar venerando um emissário divino.
O Brasil vive tempos patéticos. Protagonistas do grotesco, presidente e seguidores, apresentam ao mundo a imagem de uma república ridicularizada. A comédia encenada a cada dia nos envergonha. Os vitupérios da maior autoridade do país sendo manchetes na imprensa nacional e internacional, são um péssimo sinal de que estamos nivelando por baixo o debate político. O mais preocupante é submetermo-nos diariamente à expectativa de qual seja a bravata mais nova do presidente da república. A que ponto nós chegamos !.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão