Descaso

'E DAÍ?' A grosseria e a indiferença presentes na fala de Bolsonaro - Por Rui Leitão

A expressão “e daí?” é comumente utilizada por quem quer se eximir das responsabilidades que carrega sobre os ombros. É, sem dúvida, uma manifestação grosseira de indiferença, desinteresse, descaso, com questões que faz questão de não se envolver, ainda que sejam da sua competência de análise e ação.

A expressão “e daí?” é comumente utilizada por quem quer se eximir das responsabilidades que carrega sobre os ombros. É, sem dúvida, uma manifestação grosseira de indiferença, desinteresse, descaso, com questões que faz questão de não se envolver, ainda que sejam da sua competência de análise e ação.

E o que dizer quando isso é dito pelo presidente da república ao ser interpelado sobre o crescimento do número de mortes causadas pelo Covid-19? Um pronunciamento que, além de produzir um sentimento de perplexidade nacional, traz um desalento coletivo, porquanto provoca a sensação de desamparo do governo, diante de uma situação aterrorizadora resultante do agravamento crescente da pandemia do coronavírus?

Não se viu até agora nenhuma demonstração de empatia com os compatriotas que vivem um ambiente de drama, tanto pelo risco da perda de vidas, quanto pela intranquilidade com o futuro. É triste e decepcionante ver um chefe de Estado que não presta solidariedade, nem oferece qualquer palavra de apoio e encorajamento aos inúmeros profissionais que estão na frente de batalha tentando salvar vidas e minimizar os efeitos da doença, ainda que ameaçados por ela. Esses estão dando um exemplo de cumprimento com a missão profissional que abraçaram por vocação ou formação.

Enquanto o país conta e chora a perda por falecimento de milhares de brasileiros acometidos pela doença, o presidente da república faz escárnio da calamidade que estamos vivenciando. É de uma frieza que assusta. Contraria a imagem de cristão que tenta passar desde a campanha eleitoral. Não deve ter lido Mateus (9:36) quando diz: “Ao ver as multidões teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor”. Nem Filipenses 2:4 “Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros”. Ou ainda, Coríntios 16:14 “Façam tudo com amor”. Ao fazer declaração tão desumana, revela-se um “falso cristão”.

Do chefe da nação não se espera “milagre” nas atuais circunstâncias. O que se aguarda dele é a tomada de consciência da sua autoridade como primeiro mandatário. Os brasileiros desejam vê-lo assumindo uma postura exemplar de comedimento e de equilíbrio na administração das crises que nos abatem. A pátria tem a expectativa de ter em seu governante um comportamento de domínio de sua competência, fazendo prevalecer a compreensão de que a empatia como habilidade humana é imprescindível para quem exerce funções de liderança.

A crise sanitária que o Brasil enfrenta carece de uma liderança que se afirme competente na sua condução. “E daí?” é querer fugir da raia, se esquivar das suas responsabilidades, comportar-se como um comandante que vendo seu navio à deriva, abandona a condição de timoneiro. Se é assim, que transfira o leme para quem saiba o que fazer.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Rui Leitão