Um texto do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, provocou críticas de especialistas. O ministro considera que o coronavírus é um plano comunista, e atacou a Organização Mundial da Saúde.
O título do artigo do ministro é: “Chegou o comunavírus”. “O coronavírus faz despertar novamente para o pesadelo comunista”. Ernesto Araújo escreveu o texto a partir da leitura do livro “Vírus” de Slavoj Žižek, que ele apresenta como um dos principais teóricos marxistas da atualidade.
O ministro critica o valor que os países estão dando para a Organização Mundial da Saúde neste momento e diz: “transferir poderes nacionais à Organização Mundial de Saúde, sob o pretexto (jamais comprovado!) de que um organismo internacional centralizado é mais eficiente para lidar com os problemas do que os países agindo individualmente é apenas o primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária.”
Segundo Ernesto Araújo, “o vírus aparece, de fato, como imensa oportunidade para acelerar o projeto globalista. Este já se vinha executando por meio do climatismo ou alarmismo climático, da ideologia de gênero, do dogmatismo politicamente correto, do imigracionismo, do racialismo ou reorganização da sociedade pelo princípio da raça, do antinacionalismo, do cientificismo”.
E conclui dizendo que “a pretexto da pandemia, o novo comunismo trata de construir um mundo sem nações, sem liberdade, sem espírito, dirigido por uma agência central de ‘solidariedade’ encarregada de vigiar e punir. Um estado de exceção global permanente, transformando o mundo num grande campo de concentração”.
O artigo do ministro Ernesto Araújo provocou muitas críticas no meio diplomático e científico. O ex-embaixador Roberto Abdenur, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, considera um delírio ver a globalização como um movimento comunista.
“Diplomata precisa de muito comedimento do que fala e no que escreve. precisa de equilíbrio e objetividade e ter muito cuidado com o impacto e a repercussão do que faz e do que diz. O chanceler Ernesto Araújo se deixa inebriar por delírios e devaneios de sentido conspiratório, sem nenhuma conexão com a realidade dos fatos”, afirmou.
O ex-secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores Marcos Azambuja disse que Ernesto Araújo está inventando adversários e conspirações que não existem.
“As declarações do ministro das Relações Exteriores sobre o coronavírus e a OMS são inoportunas e são impróprias.
O Brasil enfrenta um grande desafio e precisa de amigos e aliados internos e internacionais. A OMS não é uma entidade perfeita, mas cumpre uma função essencial e é tudo o que nós temos para que a cooperação internacional se faça mais eficaz”, defendeu.
O ex-embaixador em vários países e ex-ministro de Indústria e Comércio do governo Fernando Henrique, José Botafogo Gonçalvez, disse que não há nenhuma conexão entre o coronavírus e o comunismo.
“As pandemias, não só essa, mas as que ocorrem e que ocorreram nos últimos séculos, têm uma origem que não depende de decisões políticas. Interpretar a pandemia como tendo sido gerada com objetivo político, eu creio que é uma observação equivocada”, afirmou.
O virologista Amilcar Tanuri, que integra a Academia Brasileira de Ciências, afirma que a pandemia da Covid-19 segue um caminho determinado pela natureza, como tantas outras.
“Ele não tem nenhuma ideologia política. Ele segue as informações genéticas dentro do genoma dele e está se espalhando pelo mundo inteiro”, diz.
O governo brasileiro vem se posicionando em organismos internacionais contra a globalização.
Na segunda-feira (20), o Brasil, seguindo os Estados Unidos, foi um dos poucos países que não declararam apoio público a resolução da ONU para maior cooperação internacional no desenvolvimento, fabricação e acesso a remédios e vacinas contra a Covid-19. A resolução, que fortalece a parceria com a Organização Mundial da Saúde, foi assinada por 178 países.
A Organização Mundial da Saúde decidiu não se manifestar sobre as declarações do ministro Ernesto Araújo.
Fonte: G1
Créditos: G1