Uma polêmica envolvendo a live no YouTube da dupla sertaneja César Menotti e Fabiano dominou o fim de semana. Não pelo conteúdo, que mesclava músicas dos dois e de artistas consagrados, entrecortadas por merchandising. Mas, sim, por ter saído do ar.
Os cantores logo apresentaram uma justificativa: o culpado era o YouTube. Já o Google, dono da plataforma, trouxe uma explicação bastante diferente. Foi a Som Livre, gravadora da dupla, a responsável por tirar do ar a transmissão ao vivo. E fez isso para adaptar o vídeo às regras do site, existentes desde que o programa de parcerias foi criado, em 2007.
Desde que o isolamento social foi colocado em prática para impedir a disseminação do coronavírus, as lives viraram moda. O YouTube passou a abrigar muitas delas, mas outras plataformas, como o Instagram, até liberaram novas funções para surfar na onda.
Na avaliação do Google, muita gente deve estar fazendo sua primeira transmissão ao vivo agora. Por isso, ainda não conhece as regras do YouTube. A equipe do site começou a notar, por exemplo, que quem cantava músicas de outros artistas tinha os conteúdos derrubados.
O YouTube tem um sistema que identifica automaticamente se a propriedade intelectual de alguém está sendo usada por um terceiro sem autorização. A plataforma avisa aos donos dos direitos, e são eles quem decidem se o conteúdo protegido por direitos autorais fica ou não no ar.
“É normal um artista não saber quem está fazendo a gestão da propriedade intelectual dele. Eu posso estar muito a fim de você tocar minha música no seu canal. Mas, se o cara que gerencia meu Content ID não souber, ele pode bloquear o conteúdo”, explica Cauã Taborda, gerente de comunicação do Google.
Para evitar casos como esse, que foi alvo de reclamação, por exemplo, da dupla Henrique e Juliano, o YouTube se reuniu com gravadoras na semana passada. Relembrou como a plataforma funciona, como transmissões piratas são derrubadas, o que as regras permitem e como é feita a administração de propriedade intelectual.
Alguns participantes saíram do workshop com a impressão de que novas regras estavam sendo criadas. O Google diz que não foi o caso. “A regra está lá desde que a gente existe. Não é nada novo”, afirma Taborda.
A última vez que o YouTube implementou uma nova regra foi em janeiro deste ano. Na época, produtores de conteúdo para crianças tiveram de se ajustar a diversas restrições, como o fim de comentários em seus vídeos.
No caso da live da dupla César Menotti e Fabiano, a regra descumprida impede que criadores de conteúdo veiculem inserções publicitárias nos mesmos moldes das vendidas pelo YouTube a anunciantes. O conteúdo da dupla sertaneja tinha banners de marcas que apareciam no rodapé do vídeo ou anúncios que entrecortavam a transmissão.
“Uma das regras diz que não pode ter anúncio igualzinho ao formato que o YouTube vende. Essa regra existe desde que o YouTube existe e começou a monetizar. Às vezes, as pessoas não leem as coisas ou esquecem”, comenta Taborda.
Segundo ele, a Som Livre tirou o vídeo do ar para retirar as publicidades proibidas e republicou-o momentos depois. A reportagem de Tilt procurou a gravadora, que ainda não respondeu.
O gerente do Google explica que essa é uma restrição para o YouTube não viabilizar o surgimento de um negócio publicitário igual ao seu dentro de seu próprio site. “Se isso fosse permitido, a plataforma [YouTube] estaria criando um canal de competição com ela própria. E você vê, a gente não proíbe merchandising nenhum, tanto é que eles fizeram para caramba.”
O principal negócio do YouTube é a publicidade, colocada no começo ou no meio de vídeos, ou ainda em forma de banners. Neste ano, a Alphabet, matriz do Google, revelou pela primeira vez o faturamento da plataforma: US$ 15 bilhões em 2019, cerca de 10% de todo o faturamento do Google.
Quanto ao merchandising presente na live de César Menotti e Fabiano, foi possível ver o de marcas de pão de queijo, de sistemas de monitoramento, de vidros e até de um leilão de gado Nelore.
A única restrição que o Google faz a essas inserções pagas de produtos é que elas estejam de acordo com a política de anúncios do YouTube. Além disso, a empresa informa que os conteúdos de itens e serviços são de responsabilidade dos produtos e não podem descumprir leis que obrigam transparência na veiculação de propaganda.
Fonte: UOL
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